Pedro Sampaio: uma análise estética

 

Queridos jetinhos, feliz 2022!

Para ler ouvindo: Aquecimento do Pedro Sampaio - Pedro Sampaio, Mc Jefinho

O que aconteceu no final de 2021 foi uma viagem cósmica do que seriam os melhores dias da minha vida - exceto, é claro, por aqueles que antes já foram os melhores dias de minha vida, mas caíram no esquecimento. Existem fluxos temporais da vida que precisam ser seguidos, e dentre eles está esquecer o que houve no seu dia favorito do mundo aos 11 anos de idade, criar novas memórias que permanecerão memórias pelo avanço da câmera fotográfica e vídeos de alta resolução, e, é claro, a certeza de que cada fim de ano é um limbo-buraco-de-minhoca onde dias não são contados em 24h, seus gostos não são mais seus (e sim de uma comunidade), ninguém sabe mais trabalhar, tudo é muito feliz ou muito triste, é permitido beber às 9h da manhã e o algoritmo do lastfm não vale. 

Esse não é um texto de fã de Pedro Sampaio, mas, se fosse, ele seria assim: 

Pedrinho é fenômeno. É impossível estar infeliz ouvindo as batidas de Pedrinho. Num total de 15 músicas em sua carreira, o suficiente pra cobrir a viagem Luís Correia-Parnaíba (30 minutos), a playlist This is Pedro Sampaio foi meu escudo, minha proteção da atmosfera do mundo real, onde pessoas escutam Arcade Fire e uns bagulho bonito pra sair bom no Escutados De Dezembro. Em Dezembro não há escutados estéticos. Dezembro foi feito para começar com Mariah Carey e Michael Bublé e terminar com sequência de love love e sequência de vapo vapo. É o ciclo natural da vida.  

Existem ambientes específicos que intensificam a experiência de uma música. Como ouvir metal com raiva, ou Britney numa boate gay, é assim com Pedro Sampaio e uma casa de praia. O que você escuta numa JBL enquanto está vestindo um biquini? Adele? Pouco provável. É nesse contexto de brisa do mar e não saber se é segunda ou sábado que Pedro Sampaio cresce como um monstrão do Lago Ness, usando um chapéu de fazendeiro (muito embora seja carioca, é aí que está o Charme), bota cowboy e voando uns cavalos alados que obviamente foram plagiados do Lil Nas X, mas ninguém é militante entre os dias 22 de dezembro/02 de janeiro, então tudo bem. 

Tudo bem mesmo, porque no canal de Pedro Sampaio no Youtube há um upload com um REMIX entre Galopa e Industry Baby, onde a legenda é: For Lil Nas X with all my respect and love! É sobre humildade. 

É sobre a felicidade de ouvir Sentadão numa barraca de praia onde o preço da caipirinha está inflacionado, enquanto o Bruno Deluca está sentado do seu lado e devolve um drink porque não aprovou o gosto (fatos reais). É a felicidade de gritar com todos os pulmões PE-DRO SAM-PAI-Ô VAI quando Pedrinho fala "chama chama meu nome, pô", carregado de autotune. É apreciar o autotune! 

Sabe o que é lindo? É ter escutado todas as (15) músicas tantas vezes ao ponto de descobrir que Pedrinho lutou muito pra conseguir emplacar uma catchphrase. Ouvir uma música em que Pedro Sampaio não fala seu próprio nome pelo menos 2x é como ouvir uma música do DJ Khaled sem o icônico DJ-KHALED, ou uma música da Gloria Groove sem o Gloria GroooOooOove, ou uma da Pabllo sem o VittaaaAaaaAr. É a cereja do bolo. Nas mais antigas ele tentou emplacar o "Pedro Sampaio no beat ela vem", mas não hitou. Hit mesmo é o nome dele. 

Fim de ano tem realidades paralelas que só abrem no finalzinho de Dezembro pra começo de Janeiro. Zerar todos os vídeos do Pedro Sampaio no Youtube é uma delas. É quando você se encontra fazendo uma análise profunda sobre a estética e letras do PS numa quarta-feira 10h da manhã que você se dá conta do quão Fim De Ano este cenário é, todos seus amigos de pijama ao redor, o café recém passado em cima da mesa, glitter jogado no chão. 

Entender, por exemplo, que o clipe de Galopa é uma obra prima que visa no faroeste mas acerta no camp é uma proeza que somente dias de recesso podem entregar. Não há neste Brasil que Deus deu outro clipe que misture uma fazenda do interior do Piauí com senhorinhas correndo atrás de galinha e fofocando ao fundo "olha o pedro sampaio olha o pedro sampaio!!!" pra logo depois inserir uns glitters de CGI e fazer o Pedro Sampaio voar e sentar num cavalo alado. Isso é arte e poderia ser exibido num Met Gala 2019 ou reinterpretado pela Lady Gaga. Chuto que a única outra personalidade brasileira capaz de um feat monstruoso com a Gaga, além da Pabllo Vittar e quiçá eu mesma, é o próprio menino Pedro. 

O clipe de Galopa é mais camp que o filme House Of Gucci, e é inadmissível que o segundo esteja em burburinhos ao Oscar e o primeiro não. O bom de acompanhar a pequena gigante carreira de PS, nossa Lady Gaga carioca, é que, assim como a Gaga, nós nunca sabemos o que ele vai fazer a seguir. As certezas são a presença da catchphrase e dos termos bunda&sentada, mas só. Mas o estilo? A atmosfera? Não. Pedro não entrega nada, sempre uma surpresa. 



O canal de Pedro Sampaio no Youtube é uma experiência à parte. Somente depois de uma maratona bem dada dentro deste museu virtual você seria capaz de dizer, por exemplo, que o cenário do clipe Larissa é inspirado na garagem do Batman. Mas Pedro Sampaio é Pedro Sampaio, então é claro que tem cavalo também. Se você também apostou na bunda de Anitta, bingou. 

O clipe da música com a Anitta, inclusive, não é Larissa (o que não fez sentido na minha cabeça por um bom tempo), mas sim No Chão Novinha - um hit gravado em Belém do Pará que não entrará nessa lista pois, após deliberarmos, eu e minha tchurma decidimos se tratar de um Clipe Da Anitta - dirigido e montado e analisado e pensando e concebido por ela. Nesse casa nós só nos envolvemos com o processo criativo de Pedrinho, e se o processo criativo dele envolve garagem do Batman e cavalos brancos, assim há de ser. 


Canal de PS no Youtube também oferece um contato artista-público que poucos podem dizer que tem. Toda música é entregue com lyric video, dance video, clipe oficial, bastidores, a música sem a música (sim) e com sorte até uma live. Você aí, fã de Taylor Swift sofrendo por um clipe de um single que nunca existiu: escute Pedro Sampaio. Ele entrega tudo. Meu envio favorito tem que ser o vídeo PEDRO SAMPAIO - GALOPA (SÓ A VOZ, SEM A MÚSICA), que na minha cabeça foi ele mesmo que upou numa noite de internet boa, sabe lá pra quê, mas que é basicamente a voz dele autotunada sem batida, à capella, com os barulhos do cavalo atrás. Esse vídeo sozinho já merecia um post de felicitações, e eu veementemente recomendo sentar amigos na sala pra analisar essa obra de arte audiovisual. 

Minha teoria de que Pedro faz os próprios envios é o igualmente icônico vídeo que leva o título de PEDRO SAMPAIO, Luísa Sonza - ATENÇÃO ( Versão do Clipe só com OOMPA-LOOMPAS ), assim com espaço entre os parênteses mesmo.  Se você foi um tiete do canal de Pedro Sampaio como eu nesse final de ano, saberias que a maior animação de nosso menino foi ter o ator que faz o Oompa Loompa no clipe de Atenção. A gente bem sabe que a estética do clipe de Atenção foi mal vista pela internet - o slogan parecendo um grande tolete de bosta que faria o Bolsonaro chorar por não conseguir cagar -, mas me diga se tem algo de errado no ator Deep Roy fazendo um clipe inteiro dançando Pedro Sampaio? Não quero estar certa. 


Eu estou mais obcecada com essa estética Oompa-Loompa na frente de um caminhão de bosta da Luisa Sonza e do Pedro Sampaio do que vocês poderiam imaginar. Só não deixo passar o vídeo Atenção Performance Ao Vivo, em que Lu&Ps estão cantando em cima de uma bunda gigante toda cagada. Nesse ele falhou, mas depois de duas doses de sakê dá pra assistir. 

[Um ponto muito específico da música Atenção são as voltinhas do ãaaaao no refrão idênticas ao começo de A Very Potter Musical, algo que só eu e umas 3 pessoas fãs de Starkid conseguiriam correlacionar.]

É só depois de uma análise minuciosa do canal de PS que você descobre que ele mesmo dirigiu o Oompa-Loompa original via Zoom - e ainda lançou a braba sendo bilíngue num exercício da língua inglesa que a Anitta em anos de carreira não conseguiu entregar ainda. BC, avisa que é ele.

Minha música favorita dessa trajetória toda ficou a encargo d'o Aquecimento do Pedro Sampaio, um beatzão sussa em que as únicas letras da música são a grande catchphrase Pe-Dro-Sam-Pai-Ô e um remix com a música d'A Pantera Cor de Rosa, porque falar o nome dele uma vez só não era o suficiente, e ele transcendeu a colocar Duas vezes seguidas. Só não é melhor do que a chamada da catchphrase em Sentadão, em que Pedro lança uma "Felipe Original, fala tu que eu tô cansado", nos deixando a perguntar do que exatamente Pedro está cansado, vez que nem canta na música. Ícone. 

(Por algumas horas, eu e a tchurma acreditamos fielmente que o Felipe Original era uma criança, com minha namorada fanficando que seria o filho dele. Existe uma pesquisa no Google do meu celular agora com Pedro Sampaio Filho).

Mas meu clipe favorito pessoal segue sendo Bota Pra Tremer, um vídeo em que com um orçamento de 3 reais pra um design gráfico ele já entregou que veio pra jogo. 



Pedrinho é felicidade e dias perdidos no espaço tempo, com sol de praia e amigos que também não se viam nessa situação, mas responderam a algo que só o final do ano de 2021 poderia fazer. É dançar sem saber porque no beat ela vem mesmo, é se emocionar com a magnitude de uma composição que canta "tá louca tá doida tá louca tá doida tá louca tá doida tá louca tá doida", porque SIM, é verdade, ninguém está sã em Dezembro de 2021. Pedrinho pra mim é amar as pessoas que estão junto de você mais que demais, ao ponto de ser a mulher mais feliz do mundo ouvindo Galopa e rindo porque até o "BOA NOITE" do show dele é autotune - e caraca, que muleque feliz. É essa a energia que eu quero. Cantar com a Ivete Sangalo com meu autotunezão por cima, e tá tudo bem, porque o importante é ser feliz e rebolar a bunda. 

Esse é o esquenta perfeito pra quem planeja não ler um livro sequer até o Big Brother Brasil 2022 acabar. 

Eu desejo a vocês um 2022 repleto de energia Pedro Sampaio: sempre feliz e pedindo ajuda quando cansado, numa estética que vai do mainstream ao camp, com muito chapéu de cowboy e neon no maior rodeio de Barretos. Vivências mágicas e surrealistas que poderiam ter sido dirigidas por Ele, amigos na beira mar, um ano em que dançar Chama Ela é o ápice da felicidade.

E, é claro, um álbum de músicas novas de Pedro Sampaio. Chama meu nome, pô.