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Eu vou te odiar como um idiota odeia: Jão e o fenômeno "coisa de mulherzinha"

Era um sábado quente pra caralho no autódromo de Interlagos quando fui no meu primeiro Lollapalooza - também meu primeiro festival, talvez até meus primeiros Shows De Verdade, se você ignorar o show do Maroon 5 em Fortaleza com minha madrasta uns bons oitos anos atrás, quando meus amigos de ensino médio ainda eram héteros - então não conta de verdade. Eu tinha uma pochete e um sonho: aguentar viva até o show da Miley Cyrus, o último da noite, situação extremamente delicada devido ao meu histórico de passar mal em multidões (vomitei o dia inteiro do show do Maroon 5 em 2014).

Tudo isso pra pintar o quadro de que não era minha intenção gostar tanto do show do Jão no meio dessa tarde quente-caótica, mas eu e Julia tínhamos acabado de ganhar um bucket hat da Olla com camisinhas de graça, então eu tava feliz demais. Coisas de graça me fazem feliz. O show do Jão era teoricamente de graça, também - ninguém calcula quanto custa um só show dentro do valor cheio do ingresso de quase mil reais de um dia de festival. Pra completar, uma parte do meu ingresso era residual de uma Taylor Swift que nunca veio. Feliz demais. 

Tenho essa impressão que shows pela manhã são mais gostosos. Talvez o Cara Do Som não concorde - imagino que dias tornem o trabalho dele meio inútil -, mas eu sou uma mulher de 1,58 de altura, pouca disposição de pular e preocupada demais com meu peso pra subir nos ombros de alguém. Pra além de tudo isso, o show do Jão foi no Palco Onyx, o único palco que fica dentro de um buraco, com toda a multidão em volta numa arquibancada sem assentos. Talvez tenha sido isso - talvez eu tenha que dar o devido crédito às circunstâncias; afinal, foi o primeiro show que eu Vi, na altura dos olhos, sem precisar me confiar no telão atrasado. Talvez. Tudo é um talvez. Fato é que: eu vi. 

Sei lá quem era Jão antes Do Show Que Eu Vi - exceto, é claro, por uma ou duas meninas no TikTok comentando sobre, durante o pré-estouro de Idiota. 

[Isso é mentira. Eu sabia quem era Jão por esses vídeos do Tiktok, sim, que eu inclusive pulava antes de acabar, por achar, como dizem?, cringe. Mas aí saiu a setlist do meu dia no Lolla, e eu não queria ser uma daquelas pessoas que fica parada sem saber letra alguma, minha adolescência como fã de pop no Twitter me treinou pra ser melhor que isso. Em alguma noite qualquer no meu antigo quarto eu coloquei as músicas dele pra tocar, filtrando pelas mais famosas, pois pelo menos essas eu tinha de aprender. A partir daí, o que me fez conhecer o Jão por nome e decidir assistir o show dele ao invés de continuar coletando brindes de graça foi o fato de ele parecer com o Darren Criss. Esse é um ponto muito sensível e pessoal meu, peço que não mencionem, mas o Jão é definitivamente o que o Darren Criss poderia ser se fosse bissexual assumido e mainstream. Fiquei viciada na ideia de que tinha um Darren Criss da 25 de Março aqui no Brasil que tinha dado certo. Foi isso que me fez assistir aquele show na tarde quente de sábado.]

Questão é que: é bom. Não é bom qualquer - não é um bom falso como foi o da Clarice Falcão (horrível), não é um bom normal como foi o do Maroon 5 em Fortaleza; é BONZAÇO. É qualidade palpável que parece ter saído de uma turnê que, sei lá, já que estamos nessa linguagem juvenil, o Harry Styles faria - e o mais intrigante é que nem ele tá fazendo. É grande, é bem produzido, tem cenário, tem contexto, tem umas backing vocal de elite. E isso tudo eu concluí ainda sendo a pessoa que Não Conhecia Jão, que sequer sabia que o nome dele era João Vitor (inaceitável). Fã eu sou hoje, na época eu era público de festival: público que não conhece, público feito por gente que tá passando de bobeira na frente do palco antes do show e decide ficar por lá. Foi esse o caso. Cheguei, encostei. Quando olhei pra trás, não conseguia ver o fim do mar de gente. 

Sei lá quais são os perrengues de ser um novo artista na indústria musical brasileira,  acredito que sejam muitos. Imagino que um nicho específico do Twitter que Não Gosta do conteúdo seja o menor dos problemas de conseguir viver de música nesse país, principalmente independente (até onde eu sei, o Jão tem a própria gravadora). Mas vez ou outra eu esbarro no discurso "não acredito que tem gente que gosta disso de verdade", e, meu Deus, como é irritante a prepotência do gay que escuta Grimes. 

O Jão já tinha a fama de ser "música de encontro de jovens da igreja batista", e como alguém que passou anos na igreja batista, POR QUE NÃO? Dentre todas minhas ressalvas quanto igrejas e religião, vocês já viram BANDAS de igreja? Que mal tem? Além do mais, o que é o Justin Bieber hoje se não um líder de jovens de um EJC? 

Geralmente cago com muita elegância pra crítica pessoal que vai contra meus interesses pessoais... hoje. Depois de passar anos e anos perdendo amizades com pessoas que não gostavam da minha personagem favorita, River Song. Desde esse período, sou imune a quem não gosta do que eu gosto. Minha única grande ressalva quanto a isso são os motivos. 

O Jão é visto de canto de olho por um nicho específico da internet por atrair um público que é sempre muito específico e barulhento: meninas adolescentes conglomeradas no TikTok. Na minha época, esse grupo era representado por fãs de Crepúsculo e McFly nos fóruns de comunidade de Orkut, depois Belieber e Directioner no Twitter. Esse grupo sempre existiu e sempre vai existir, pois sempre vai ter menina adolescente com crush no mundo. Fã de música em geral, no Brasil, sempre respeita essa hierarquia inventada e silenciosa de que o produto do interesse desse grupo específico é automaticamente ruim. 

Rolava um texto no Medium um tempo atrás sobre como o kpop era visto dessa forma por ser lido como conteúdo desse grupo de, na sua grande maioria, meninas jovens. Automaticamente se tornava algo a torcer o nariz, pois como poderiam menininhas terem um bom gosto? Sendo brasileiro, então, capaz de carregar todas as minorias. 

É como colocar Jão e Shawn Mendes lado a lado: ambos conteúdos de "torcer o nariz" pela hierarquia inventada, mas, ainda assim, o Jão cai mais pra baixo na pirâmide por ser um produto nacional, perto demais da casinha pra ser olhado com outros olhos que não os de viralata internacional, muito embora a qualidade do que ele entrega seja infinitamente superior à qualidade do Shawn Mendes. 

É esquisitíssimo perceber que um determinado público de ~~críticos musicais, always men, usually gay, que não entenderiam essa referência por nunca terem escutado The Last Five Years, mas que escutam diariamente álbuns de artistas dos confins da Noruega, com músicas de 9 minutos e remixagem de batida em panela que acham Genial, é, na verdade, um grupo feito do mesmo suprassumo dos geriátricos fãs de Iron Maiden que só gostam de rock feito antes de Jesus Cristo nascer. Com uma pitada do cinéfilo que acha os filmes do Tarantino as melhores coisas já criadas, sem admitir que Shrek 2 é muito melhor que Jango.

O Diabo Veste Prada sempre vai ser melhor do O Poderoso Chefão, e tá tudo certo. "Conteúdo de mulherzinha" pode ser do caralho. O quão pedante é ficar preso em scrobbles do lastfm para seus fellow indie gays te analisarem dependendo do quão experimental e desconhecida é a música que você escuta? Que vida vazia e infeliz. Às vezes a gente só quer a simplicidade do conteúdo mulherzinha, pular gritando EU VIM DO INTERIOR segurando uma bandeira LGBT. Isso vindo de uma sociedade que cresceu com É O Tchan. Não dá pra acreditar que nós, como sociedade, perdemos a felicidade de simplesmente curtir.

Não ironicamente, toda essa Superioridade Musical me lembra quem não assiste BBB porque está ocupado lendo livros. 

Meu parceiro, 2022. Vamos nos alienar. 

Cabe a todos nós ser um pouco do Elton John: um clássico, um marco, que depois de velho taca o foda-se e agora só faz pop farofa com artista pop farofa. A vida é muito curta pra envelhecer sem apreciar o novo. Ficar preso no tradicional é tão Bolsonarismo das ideias. Você quer ser comparado a um Bolsonarista? Pense sobre isso. 

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[[Ademais, dentre tantos pecados que cometo sendo fã de Jão, o maior deles, gratuitamente pontuado por minha amiga Clara, é chorar por um ecano da USP.]]

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Na sexta, o Jão se apresentou no Rock in Rio, tranmissão que eu assisti pela TV da Cecília enquanto fingia concluir meu home office - até ter de desligar o trabalho pra chorar. Chorei catarticamente durante a música Imaturo, que nem é uma música triste, mas tem uma força que me puxa quando todo mundo canta É QUE EU SOU FRACO, FRÁGIL, ESTÚPIDO PRA FALAR DE AMOR, porque eu também sou fraca, frágil e estúpida pra falar de qualquer coisa. Chorei freneticamente enquanto lembrava de ter gritado isso no Lolla, mesmo sem saber a música direito, quando morar em São Paulo e me soltar das minhas amarras e demônios em casa era apenas um grande e distante sonho. Continuei chorando quando segui lembrando da segunda vez que berrei isso ao vivo, no show do Jão no Espaço das Américas um mês atrás, com minha namorada me abrançando e voltando comigo pro lar que montamos juntas.

Não é justa a superficialidade que atribuem ao falso "gosto de menininha"; é um conteúdo que pode ser tudo, menos superficial. Meninas jovens são as criaturas menos superficiais que já tive oportunidade de conhecer e ser - sentimos tudo, tudo junto, toda hora. Quando algo é acolhido por esse nicho, geralmente é por ser um porta voz desse caos de sentimentos não racionalizados. Particularmente, isso me pega de um jeito muito específico, de me lembrar que ainda sonho em sair de uma área profissional que adoece pra fazer o que eu amo e quero fazer: colocar meus sentimentos e pensamentos num papel dentro de uma garrafa, jogar no mar, e esperar alguém achar e ler, até que faça sentido. 

Se eu ainda pudesse escolher algo pra ser, um privilégio que toda criança tem, escolheria isso. 

Ser coisa de mulherzinha. 

Fofocas da Semana de Arte Moderna, 100 anos depois


Esse é um post surpresa até pra mim. 

Deveria ter me planejado melhor pra lançar um conteúdo legal do assunto que mais gosto de falar na vida, no momento em que tenho motivo para tal? Deveria. Obviamente não o fiz, mas como orgulho do modernismo que sou, entrego o improviso e a imperturbabilidade que só um participante da semana de 22 poderia ter ao receber negativa recepção do seu trabalho. Ou, de forma mais simples: o produto é este e nós cagamos pro que você espera. (Com amor <3)

Cem anos atrás, o Teatro Municipal de São Paulo se preparava para receber o evento mais Novela Do Manoel Carlos do século, onde todo mundo se perguntava quem seria Helena. Sete anos atrás, uma jovem Denise que nunca entendera o intuito de aulas de Artes no Ensino Médio teve sua primeira experiência descobrindo que Arte, a matéria, poderia ser legal - se ao menos uma professora se dispusesse ensinar algo além de propor releituras d'O Abaporu com tinta gauche. Com a entrada de Maria Antonieta, A Professora De Artes, tudo mudou. A aula de Artes era o melhor momento da semana. Era mágico, era fantástico, era entrar em Nárnia pelo guarda-roupa e estar fascinada durante 50 minutos de aula que consistiam em intrigas, amores, amizades e simbolismos. 

O que um evento centenário e o meu último ano do ensino médio tem em comum? Ambos marcaram um divisor de águas do que seria minha mais longa obsessão, um traço de personalidade, um estilo de vida. Foi quando Maria Antonieta começou um novo semestre sobre a arte moderna no Brasil que, assim como em 1922, tudo mudou.

E, assim como Maria Antonieta fez naquela época, eu instigo a curiosidade dos leitores com um embaralhar de nomes conhecidos, mas com fofoca do desconhecido. Como propõe o modernismo, simplifico: 

aqui é o que você perdeu na semana de 22 [voz do narrador de GLEE]!

1. Monteiro Lobato abriu uma discussão no Pitchfork e deu zero estrelas pro trabalho de Anita Malfatti, a Juliette das artes, afirmando que ela não era artista

Que Monteiro Lobato passeava pelos fóruns da BC criticando ícones pop(ulares), já sabíamos. O curioso é pontuar que esse episódio, no entanto, aconteceu cinco anos antes da semana de arte moderna (em 1917), e não durante o evento.

Seu nome associado à semana de 22 não vem de sua participação nela, mas sim do desenrolar que o artigo "Paranoia ou Mistificação?" sobre as obras de Anita Malfatti teve por tantos anos seguintes. No artigo, a parte em que Monteiro Lobato afirmava que as obras de Anita pareciam desenhos de parede de manicômio era a parte mais leve. O resultado foi diretamente prejudicial para a pintora, vez que mais da metade dos quadros vendidos em sua exposição foram devolvidos depois da publicação de Monteiro, e, em certa ocasião, um frequentador da casa até ameaçou destruir todas as obras com uma bengala.

Anita Malfatti já tinha a carreira dela muito bonita lá fora, com seus estudos na Alemanha e Estados Unidos, estudos estes que estavam além da compreensão conversadora eurocêntrica de Monteiro Lobato e demais paulistas. É importante pontuar que Anita nunca foi uma afronta. Anita era uma menina doce. Gentil. Querida. Se quisesse afrontar com a exposição que marcava seu retorno ao Brasil em 1917, teria exposto suas ilustrações de nu masculino. Mas não o fez. Anita é nossa maior vítima de "eles não entenderam". 

Filha de pai italiano e mãe norte-americana, Anita nasceu brasileira, em São Paulo, com atrofia no braço e na mão direita. Pintou mesmo assim, desde cedo - aprendera com a mãe, que dava aulas de pintura para sustentar a casa após o falecimento precoce do marido. Um detalhe pouco mencionado que sempre me encantou em Anita foi seu diferente background: se fingirmos choque, conseguiremos relembrar que quase toda a roda de artistas modernistas de São Paulo eram pessoas ricas, de famílias ricas, com altos recursos - e isso se prova na possibilidade monetária de bancar um evento como a semana de 22 no maior teatro da cidade. Anitta não era uma dessas pessoas, financeiramente falando. Por tal motivo, sempre se sentiu inferior, e insistia que não tinha obras boas a oferecer, tanto pelo trauma com a receptividade da capital paulista com suas obras, quanto pelo sentimento de ser inferior aos seus colegas, pela falta de dinheiro e pela limitação em seus movimentos. 

Foi parar na Europa por financiamento de um tio que, ao mandar suas filhas para Alemanha, resolveu fazer a benfeitoria de enviar a sobrinha Anita junto. Foi assim seu contato inicial com as vanguardas da Europa, onde se encontrou numa pintura mais expressionista e cubo-futurista. Mesmo depois do Tretas TNT com Monteiro Lobato, mesmo depois de se estabelecer como modernista e oferecer diversas exposições solo, Anita seguia solitária e incompreendida. Seu trabalho não era aceito nem pela própria mãe, que a ensinou o caminho das artes. Em entrevista de 1972 à revista Veja, Tarsila do Amaral, amiga de Anita, relatou o seguinte: 

"A mãe da Anita era muito passadista e vivia contra a filha e contra as inovações dela na pintura, dizia que aquilo não prestava. A Anita ficava muito desanimada da mãe se zangar por ela não fazer o parecido, a mãe não compreendia nada, era um horror!"
           

E, falando nela...

2. Tarsila do Amaral não participou da semana de arte moderna em São Paulo, pois, assim como Ciro Gomes, estava em Paris

Se a história de Anita se parece com a história de Juliette, Tarsila do Amaral é Jade Picon. Riquíssima desde o berço, sempre teve o apoio financeiro da família aristocrata para estudar fora, sempre foi a menina dos olhos de Deus, o cristal, a intocável. Enquanto Anita era um alvo fácil para críticas degradantes como saco de pancadas do modernismo, Tarsila carregava um renome tão grande que era improvável receber as humilhações que Anita recebia, muito embora seguissem na mesma vertente. 

A amizade de Anita e Tarsila é nosso Amigas e Rivais favorito do modernismo, Elena Greco e Rafaella Cerullo dos anos 20, nossa Amiga Genial. Começaram uma amizade ao compartilharem o mesmo professor, lá por volta de 1918, anos antes da semana de arte moderna. Quando Anita retornou ao Brasil, manteve contato com Tarsila (que na época estudava na França) por cartas. Era Anita que contava à Tarsila tudo que acontecia na cena artística São Paulo, Anita que confidenciou a dor que sentia com os ataques de Monteiro Lobato e, consequentemente, também foi Anita que contou à amiga sobre a iminência de uma semana feita para celebrar a arte moderna. Tarsila disse diversas vezes em entrevista que achava o máximo a proposta do evento - mas não o suficiente para deixar Paris e participar. 


A diferença entre Tarsila e Anita é que Tarsila nunca abriu mão do seu luxo. Em um movimento cultural que os jovens da época abdicavam de seus casarões para viver como boêmios de deixar o musical Rent com inveja, Tarsila nunca foi uma dessas pessoas. Mesmo depois, ao voltar ao Brasil e entregar suas obras mais conhecidas focadas em cores vivas, primárias, e em cenários rurais e religiosos - mesmo nessa época de sua carreira, Tarsila ainda era A Tarsila, conhecida não somente por Abaporus, mas também por seu guarda-roupa impecável, suas viagens extravagantes, e seus presentes que eram Picassos originais - com quem, inclusive, estudou. 

Entendo que muito da inimizade que inevitavelmente surgiu entre Anita e Tarsila veio disso: da grande Tarsila em detrimento da pequena Anita. Tarsila se tornou um ícone da arte moderna brasileira, sendo chamada até hoje de "musa do movimento modernista", uma regalia e simpatia que Anita não recebeu.

Além de tudo, a Rivalidade Feminina dos anos 20 era alimentada com um poderoso combustível: ciúmes. 

3. Anita Malfatti era apaixonada por Mário de Andrade, que era apaixonado por Tarsila do Amaral, que era apaixonada por Oswald de Andrade, que era uma vagabunda

Nenhuma dessas informações é cientificamente comprovada - exceto, é claro, que Oswald de Andrade era uma vagabunda. Mas existem duas verdades universais envolvendo o nome de Mário de Andrade: que eu sou ele reencarnado e que Anita Malfatti o amava. 

Mencionei que Anita era um doce, uma querida. Mário também era essa pessoa. Os dois se conheceram com sua volta ao Brasil, em 1917, e Mário cultivou sua amizade por todos os anos seguintes, até o final de sua vida. Quando do episódio com Lobato, Mário foi um dos primeiros a defender a amiga e a se oferecer presente à ela.  

As cartas de Anita falavam de uma coisa só: amor. O amor de Anita não era secreto. Manuel Bandeira chegou a escreve para Mario intercedendo pela amiga. Em uma carta à Anita, quando ela já estava na França, Mário terminou com: “um grande abraço infantil e fraternal do amigo Mário” a qual ela, em sua resposta, terminou com “um beijinho adolescente e nada fraternal”.
Fico imaginando essa realidade que mais parece enredo de filme, em que Manuel Bandeira teve de chegar para Mário de Andrade via carta falando "ei, minha amiga disse que quer ficar contigo". Há quem diga que Anita passou sua vida inteira amando Mário de Andrade, que nunca foi capaz de retribuir tal amor da mesma forma. Por 20 anos, Mário e Anita se comunicaram por diversas cartas, tanto de amor (dela) quanto fraternais (dele). No final das contas, Mário se envolveu, sim, com Anitta - em sua própria definição, ambos tiveram um caso "intenso e platônico", onde Anita entregava seu coração, e Mário devolvia seu afeto com sua alma. 

Mas Mário sempre doava sua alma à tudo que amava. Pra mim, Mário é amor. E muito embora isso seja uma outra conversa (meu amor por um finado homem), é relevante pra essa fofoca. Isso porque, ao mesmo tempo em que se desviava das investidas de Anita, Mário mantinha um relacionamento frequente com sua Deusa, sua Musa, a mulher que ele admirava como uma entidade, e que beijava o solo por onde ela passava. Adivinhe quem. 

Tarsila.

As cartas de Mário para Tarsila são poesia. A devoção com que ele se refere a ela, muito embora venha do mesmo lugar de amor e carinho oferecido à Anita, abrem brecha pra se perguntar: Será que Mário tinha uma queda por Tarsila? Quem não gostava nada desse cenário era Anita, nossa mocinha, que se rebelava de ciúmes sempre que o afeto de Mário ia na direção de Tarsila. Mas não só ela. 

Entra Oswald de Andrade, meu inimigo pessoal. Oswald e Mário eram parceiros, amigos - desde o princípio. Muito embora um fosse o contrário do outro (já escrevi sobre isso!), suas diferenças somavam sua relação: no que Oswald era extravagante, Mário era contido; no que Mário era silencioso, Oswald gritava. Eram o braço direito um do outro, e foram suas ideias em conjunto que deram base ao movimento da arte moderna no Brasil. Quando eventualmente romperam (tinham mais divergências do que poderiam lidar, no final das contas), Oswald já era casado com Tarsila, que seguia amiga de Mário. Foi Mário quem, inclusive, criou o primeiro nome de ship do Brasil: em cartas redigidas para ambos, chamava-os de Tarsivaldo.


Quando Mário e Oswald romperam (tópicos a seguir), Mário e Tarsila seguiram em sua amizade, mas sempre sob um olhar vigilante do marido/inimigo. Por diversos momentos, Oswald usou a esposa para interceder em seu nome: são diversos registros em carta de Tarsila pedindo para que Mário perdoasse o marido, pois “ele é brincalhão assim mesmo”, e “está do meu lado dizendo que tem saudades tuas”. Mário agradecida a intenção da amiga, mas se negava a trazer Oswald de volta à sua vida. 

E foi assim que Oswald, contrariado e enciumando, passou a reclamar das diversas interações da esposa com seu ex-melhor amigo, mais pelo desprazer de que ela mantivesse contato com alguém que lhe negou proximidade do que por insatisfação quanto à relação dos dois. Oswald sempre teve de ser o centro das atenções, o ator principal - e se ele tivesse de fazer o relacionamento de terceiros sobre ele mesmo, ele faria. Assim, Oswald se meteu no relacionamento dos dois amigos, atrapalhando que cartas fossem enviadas por Tarsila e prejudicando a comunicação entre eles. Por diversas vezes, Mário escrevia questionando a demora de Tarsila em lhe responder, ansioso para ter notícias dela, mas sem resposta. 

Foi só com o término do relacionamento Tarsivaldo que Tarsila restabeleceu comunicação frequente com Mário. Em 1929, Tarsila rompeu seu casamento com Oswald ao descobrir sua traição com a jovem artista que o casal havia apadrinhado: Pagu. 

If traição so bad why Pagu tão bonita e comunista

4. Mário e Oswald de Andrade rompem para sempre depois de Oswald ofender o amigo e pelo menos 98 princípios e tratados internacionais de Direitos Humanos

O rompimento de Oswald e Mário é, até hoje, matéria pública. Oswald era a abelha rainha, os outros modernistas eram os zangões dele (fonte: vozes de sua cabeça). Oswald era o tipo de pessoa a ser categorizado como "inconveniente": aqueles homens espaçosos, barulhentos, que comandava uma sala inteira. Se foi político em algum ponto da vida não sei, pois me recuso a pesquisar muito - mas, se não foi, deveria ter sido. Mário nunca foi um homem expansivo. Era o contrário. Era manso, delicado, afável. A surpresa não é o rompimento dos dois, mas sim como aguentaram tanto tempo sendo grande parte da vida um do outro. 

A história, em resumo e linguagem atual, é que Oswald foi homofóbico com Mário. Se entrou neste post zerado do assunto, surpresa! Mário de Andrade era um mulato não-hétero. Pra surpresa de ninguém, Oswald tirava sarro publicamente de ambas características. 

Os desentendimentos se davam porque Oswald era intempestivo nas suas colocações, corrosivo nos juízos jocosos: perdia o amigo, mas não perdia a piada. Como não tinha papas na língua, invariavelmente feria o interlocutor com seu deboche. Mário, mesmo amigo próximo de Oswald, não compactuava com esse tipo de tratamento. O próprio Mário foi alvo de ataques de Oswald nas páginas da Revista de Antropofagia: O título era “Miss Macunaíma”, fazendo alusões grosseiras à provável homossexualidade do amigo. Não havia sido a primeira vez que Oswald cometia insinuações do gênero. Escreveu em números anteriores da mesma revista que Mário era “o nosso Miss São Paulo traduzido em masculino". Quando Oswald carregou mais tintas no verbo, envolvendo familiares do escritor, Mário de Andrade sinalizou com um basta, e nunca mais quis reatar a amizade. Oswald, porém, que se comportava como criança rebelde, para quem tudo depois poderia serenar, acreditava na reconciliação que nunca ocorreu.
À época, não era como se Mário fosse escancarado do armário. O assunto sempre foi algo silencioso em sua vida, por vezes até poético: as únicas menções diretas que faz à respeito são por meio de poemas e cartas pessoais. Ao visitar a casa de Mário de Andrade em 2021, questionei sobre isso ao guia que nos acompanhava, e fiquei feliz da vida ao descobrir que hoje este é um assunto que existe. Me falou com todas as letras que não era uma teoria, e sim um fato, a "bissexualidade ou homossexualidade de Mário de Andrade", que amava tanto os corações que admirava, sem importar em que embalagem estava este coração. Oswald de Andrade, por anos sua companhia mais próxima, frequentador assíduo de sua casa, obviamente sabia - e usava disso para caçoar o "amigo" sempre que tinha a oportunidade. 

Depois deste fato, nunca mais se falaram. Morria, então, a relação que criativamente foi capaz de impulsionar movimentos artísticos, mas, no fim das contas, foi incapaz de ser uma amizade. 

5. Fofocas do Evento

  • A Semana de Arte Moderna não durou uma semana, e sim três dias. 

  • O evento foi financiado pela elite de São Paulo (sua grande maioria fazendeiros de café).

  • Foi um cabaré: gritaria, vaias, gente jogando tomate, o diabo a quatro. Mas foi mesmo? Dizem por aí (banner do Teatro Municipal, informação de 2021) que os próprios modernistas contrataram pessoas para se manifestarem negativamente nos eventos, na intenção de, literalmente, dar o que falar. Com o bafafá, não se falava de outra coisa nas semanas seguintes.

  • Dizem por aí também (pesquisadores da semana) que Oswald de Andrade fez a Lady Gaga e contratou estudantes de Direito da USP para atirar tomates nele mesmo, enquanto declamava um poema de sua autoria. Apenas pela polêmica. #TheFameMonster 

  • ELA NÃO VEM MAIS: além de Tarsila do Amaral, Manuel Bandeira também não foi (adoeceu). Ronald de Carvalho foi o responsável por declamar o poema de Bandeira, "Os Sapos", em meio às vaias do público. O poema é até hoje utilizado como marco do modernismo por cutucar diretamente a vanguarda anterior (parnasianismo, que prezava pela estética do poema).

  • Heitor Villa-Lobos se apresentou calçando num pé um sapato e no outro um chinelo. Era uma performance modernista? Era uma afronta aos senhores de paletó e madames de pérolas sentados na platéia? Era essa a parte infame do modernismo brasileiro? Era o que o público se perguntava. No final das contas, não era nada, só um calo no pé.

6. Desfechos - os pedaços que aparecem no final do filme, antes de subir os créditos

Com Pagu, Oswald teve um filho (Rudá de Andrade). Tarsila e Oswald não tiveram filhos juntos. Tarsila teve uma filha apenas - Dulce do Amaral -, fruto de seu primeiro casamento. Dulce era mencionada por Mário de Andrade em quase todas as cartas enviadas à Tarsila, tamanho carinho o poeta tinha pela menina. Dulce faleceu em 1966, e Tarsila, que já não conseguia mais andar devido a um erro médico, morre pouco tempo depois, em depressão pela perda da única filha. 

Mário de Andrade teve uma morte precoce: morreu em 1945 de um ataque cardíaco, aos 51 anos, deitado em sua casa, que chamava de Morada do Coração Perdido e hoje é o Museu Casa Mário de Andrade, na Rua Lopes Chaves - Barra Funda. Um lugar que me trouxe à vida e me abraçou de um jeito que não dá pra pontuar em palavras. Todos sentiram sua morte: Antônio Cândido, amigo de Oswald de Andrade, afirmou na Flip de 2011 que Oswald ficou desesperado com a notícia da morte de Mário - sempre teve esperança de reatar com o amigo. Depois da morte de Mário, Anita Malfatti se recolhe em sua chácara e lá vive reclusa até sua própria morte, em 1964. 

A Semana de Arte Moderna sempre foi tão mais que só um movimento. Foram vivências. Histórias. Um grupo de amigos (O Grupo dos Cinco, formado pelos 4 principais mencionados nesse texto e Menotti Del Picchia) que fazia tudo juntos, que pensavam juntos, que criavam juntos. Se amavam, se desrespeitavam, rompiam, voltavam - que, acima de tudo, se admiravam. Se não se admirassem, nunca teriam criado o que criaram. 

Toda essa história me puxou pela fofoca, mas me segurou até hoje pelas nuances, pelos detalhes. Pela humanidade de tudo, nos erros e nos acertos, me lembrando que a Arte sempre, sempre vai ser sentimento. Quer este sentimento seja bom ou ruim. 

Essa é, afinal de contas, a premissa de ser humano. 

  
     

Em certa ocasião, Mário de Andrade enviou margaridas para o ateliê de Tarsila do Amaral e também para o ateliê de Anita Malfatti. Ambas registaram em tela. À esquerda, Margaridas de Mário de Andrade (1922), por Tarsila. À direita,
 As Margaridas de Mário (1922), por Anita. 

Pedro Sampaio: uma análise estética

 

Queridos jetinhos, feliz 2022!

Para ler ouvindo: Aquecimento do Pedro Sampaio - Pedro Sampaio, Mc Jefinho

O que aconteceu no final de 2021 foi uma viagem cósmica do que seriam os melhores dias da minha vida - exceto, é claro, por aqueles que antes já foram os melhores dias de minha vida, mas caíram no esquecimento. Existem fluxos temporais da vida que precisam ser seguidos, e dentre eles está esquecer o que houve no seu dia favorito do mundo aos 11 anos de idade, criar novas memórias que permanecerão memórias pelo avanço da câmera fotográfica e vídeos de alta resolução, e, é claro, a certeza de que cada fim de ano é um limbo-buraco-de-minhoca onde dias não são contados em 24h, seus gostos não são mais seus (e sim de uma comunidade), ninguém sabe mais trabalhar, tudo é muito feliz ou muito triste, é permitido beber às 9h da manhã e o algoritmo do lastfm não vale. 

Esse não é um texto de fã de Pedro Sampaio, mas, se fosse, ele seria assim: 

Pedrinho é fenômeno. É impossível estar infeliz ouvindo as batidas de Pedrinho. Num total de 15 músicas em sua carreira, o suficiente pra cobrir a viagem Luís Correia-Parnaíba (30 minutos), a playlist This is Pedro Sampaio foi meu escudo, minha proteção da atmosfera do mundo real, onde pessoas escutam Arcade Fire e uns bagulho bonito pra sair bom no Escutados De Dezembro. Em Dezembro não há escutados estéticos. Dezembro foi feito para começar com Mariah Carey e Michael Bublé e terminar com sequência de love love e sequência de vapo vapo. É o ciclo natural da vida.  

Existem ambientes específicos que intensificam a experiência de uma música. Como ouvir metal com raiva, ou Britney numa boate gay, é assim com Pedro Sampaio e uma casa de praia. O que você escuta numa JBL enquanto está vestindo um biquini? Adele? Pouco provável. É nesse contexto de brisa do mar e não saber se é segunda ou sábado que Pedro Sampaio cresce como um monstrão do Lago Ness, usando um chapéu de fazendeiro (muito embora seja carioca, é aí que está o Charme), bota cowboy e voando uns cavalos alados que obviamente foram plagiados do Lil Nas X, mas ninguém é militante entre os dias 22 de dezembro/02 de janeiro, então tudo bem. 

Tudo bem mesmo, porque no canal de Pedro Sampaio no Youtube há um upload com um REMIX entre Galopa e Industry Baby, onde a legenda é: For Lil Nas X with all my respect and love! É sobre humildade. 

É sobre a felicidade de ouvir Sentadão numa barraca de praia onde o preço da caipirinha está inflacionado, enquanto o Bruno Deluca está sentado do seu lado e devolve um drink porque não aprovou o gosto (fatos reais). É a felicidade de gritar com todos os pulmões PE-DRO SAM-PAI-Ô VAI quando Pedrinho fala "chama chama meu nome, pô", carregado de autotune. É apreciar o autotune! 

Sabe o que é lindo? É ter escutado todas as (15) músicas tantas vezes ao ponto de descobrir que Pedrinho lutou muito pra conseguir emplacar uma catchphrase. Ouvir uma música em que Pedro Sampaio não fala seu próprio nome pelo menos 2x é como ouvir uma música do DJ Khaled sem o icônico DJ-KHALED, ou uma música da Gloria Groove sem o Gloria GroooOooOove, ou uma da Pabllo sem o VittaaaAaaaAr. É a cereja do bolo. Nas mais antigas ele tentou emplacar o "Pedro Sampaio no beat ela vem", mas não hitou. Hit mesmo é o nome dele. 

Fim de ano tem realidades paralelas que só abrem no finalzinho de Dezembro pra começo de Janeiro. Zerar todos os vídeos do Pedro Sampaio no Youtube é uma delas. É quando você se encontra fazendo uma análise profunda sobre a estética e letras do PS numa quarta-feira 10h da manhã que você se dá conta do quão Fim De Ano este cenário é, todos seus amigos de pijama ao redor, o café recém passado em cima da mesa, glitter jogado no chão. 

Entender, por exemplo, que o clipe de Galopa é uma obra prima que visa no faroeste mas acerta no camp é uma proeza que somente dias de recesso podem entregar. Não há neste Brasil que Deus deu outro clipe que misture uma fazenda do interior do Piauí com senhorinhas correndo atrás de galinha e fofocando ao fundo "olha o pedro sampaio olha o pedro sampaio!!!" pra logo depois inserir uns glitters de CGI e fazer o Pedro Sampaio voar e sentar num cavalo alado. Isso é arte e poderia ser exibido num Met Gala 2019 ou reinterpretado pela Lady Gaga. Chuto que a única outra personalidade brasileira capaz de um feat monstruoso com a Gaga, além da Pabllo Vittar e quiçá eu mesma, é o próprio menino Pedro. 

O clipe de Galopa é mais camp que o filme House Of Gucci, e é inadmissível que o segundo esteja em burburinhos ao Oscar e o primeiro não. O bom de acompanhar a pequena gigante carreira de PS, nossa Lady Gaga carioca, é que, assim como a Gaga, nós nunca sabemos o que ele vai fazer a seguir. As certezas são a presença da catchphrase e dos termos bunda&sentada, mas só. Mas o estilo? A atmosfera? Não. Pedro não entrega nada, sempre uma surpresa. 



O canal de Pedro Sampaio no Youtube é uma experiência à parte. Somente depois de uma maratona bem dada dentro deste museu virtual você seria capaz de dizer, por exemplo, que o cenário do clipe Larissa é inspirado na garagem do Batman. Mas Pedro Sampaio é Pedro Sampaio, então é claro que tem cavalo também. Se você também apostou na bunda de Anitta, bingou. 

O clipe da música com a Anitta, inclusive, não é Larissa (o que não fez sentido na minha cabeça por um bom tempo), mas sim No Chão Novinha - um hit gravado em Belém do Pará que não entrará nessa lista pois, após deliberarmos, eu e minha tchurma decidimos se tratar de um Clipe Da Anitta - dirigido e montado e analisado e pensando e concebido por ela. Nesse casa nós só nos envolvemos com o processo criativo de Pedrinho, e se o processo criativo dele envolve garagem do Batman e cavalos brancos, assim há de ser. 


Canal de PS no Youtube também oferece um contato artista-público que poucos podem dizer que tem. Toda música é entregue com lyric video, dance video, clipe oficial, bastidores, a música sem a música (sim) e com sorte até uma live. Você aí, fã de Taylor Swift sofrendo por um clipe de um single que nunca existiu: escute Pedro Sampaio. Ele entrega tudo. Meu envio favorito tem que ser o vídeo PEDRO SAMPAIO - GALOPA (SÓ A VOZ, SEM A MÚSICA), que na minha cabeça foi ele mesmo que upou numa noite de internet boa, sabe lá pra quê, mas que é basicamente a voz dele autotunada sem batida, à capella, com os barulhos do cavalo atrás. Esse vídeo sozinho já merecia um post de felicitações, e eu veementemente recomendo sentar amigos na sala pra analisar essa obra de arte audiovisual. 

Minha teoria de que Pedro faz os próprios envios é o igualmente icônico vídeo que leva o título de PEDRO SAMPAIO, Luísa Sonza - ATENÇÃO ( Versão do Clipe só com OOMPA-LOOMPAS ), assim com espaço entre os parênteses mesmo.  Se você foi um tiete do canal de Pedro Sampaio como eu nesse final de ano, saberias que a maior animação de nosso menino foi ter o ator que faz o Oompa Loompa no clipe de Atenção. A gente bem sabe que a estética do clipe de Atenção foi mal vista pela internet - o slogan parecendo um grande tolete de bosta que faria o Bolsonaro chorar por não conseguir cagar -, mas me diga se tem algo de errado no ator Deep Roy fazendo um clipe inteiro dançando Pedro Sampaio? Não quero estar certa. 


Eu estou mais obcecada com essa estética Oompa-Loompa na frente de um caminhão de bosta da Luisa Sonza e do Pedro Sampaio do que vocês poderiam imaginar. Só não deixo passar o vídeo Atenção Performance Ao Vivo, em que Lu&Ps estão cantando em cima de uma bunda gigante toda cagada. Nesse ele falhou, mas depois de duas doses de sakê dá pra assistir. 

[Um ponto muito específico da música Atenção são as voltinhas do ãaaaao no refrão idênticas ao começo de A Very Potter Musical, algo que só eu e umas 3 pessoas fãs de Starkid conseguiriam correlacionar.]

É só depois de uma análise minuciosa do canal de PS que você descobre que ele mesmo dirigiu o Oompa-Loompa original via Zoom - e ainda lançou a braba sendo bilíngue num exercício da língua inglesa que a Anitta em anos de carreira não conseguiu entregar ainda. BC, avisa que é ele.

Minha música favorita dessa trajetória toda ficou a encargo d'o Aquecimento do Pedro Sampaio, um beatzão sussa em que as únicas letras da música são a grande catchphrase Pe-Dro-Sam-Pai-Ô e um remix com a música d'A Pantera Cor de Rosa, porque falar o nome dele uma vez só não era o suficiente, e ele transcendeu a colocar Duas vezes seguidas. Só não é melhor do que a chamada da catchphrase em Sentadão, em que Pedro lança uma "Felipe Original, fala tu que eu tô cansado", nos deixando a perguntar do que exatamente Pedro está cansado, vez que nem canta na música. Ícone. 

(Por algumas horas, eu e a tchurma acreditamos fielmente que o Felipe Original era uma criança, com minha namorada fanficando que seria o filho dele. Existe uma pesquisa no Google do meu celular agora com Pedro Sampaio Filho).

Mas meu clipe favorito pessoal segue sendo Bota Pra Tremer, um vídeo em que com um orçamento de 3 reais pra um design gráfico ele já entregou que veio pra jogo. 



Pedrinho é felicidade e dias perdidos no espaço tempo, com sol de praia e amigos que também não se viam nessa situação, mas responderam a algo que só o final do ano de 2021 poderia fazer. É dançar sem saber porque no beat ela vem mesmo, é se emocionar com a magnitude de uma composição que canta "tá louca tá doida tá louca tá doida tá louca tá doida tá louca tá doida", porque SIM, é verdade, ninguém está sã em Dezembro de 2021. Pedrinho pra mim é amar as pessoas que estão junto de você mais que demais, ao ponto de ser a mulher mais feliz do mundo ouvindo Galopa e rindo porque até o "BOA NOITE" do show dele é autotune - e caraca, que muleque feliz. É essa a energia que eu quero. Cantar com a Ivete Sangalo com meu autotunezão por cima, e tá tudo bem, porque o importante é ser feliz e rebolar a bunda. 

Esse é o esquenta perfeito pra quem planeja não ler um livro sequer até o Big Brother Brasil 2022 acabar. 

Eu desejo a vocês um 2022 repleto de energia Pedro Sampaio: sempre feliz e pedindo ajuda quando cansado, numa estética que vai do mainstream ao camp, com muito chapéu de cowboy e neon no maior rodeio de Barretos. Vivências mágicas e surrealistas que poderiam ter sido dirigidas por Ele, amigos na beira mar, um ano em que dançar Chama Ela é o ápice da felicidade.

E, é claro, um álbum de músicas novas de Pedro Sampaio. Chama meu nome, pô.