Esqueçam tweets virais e tiktoks sobre geração y e millennials, nós encontramos o Messias dessa divisão. Não importa se você nasceu em 1989 e parte o cabelo de lado, se nasceu em 1998 e não se encaixa em lugar nenhum, ou se nasceu em 2001 e não usa calça jeans - essas diferenças geracionais não importam mais, agora que achamos nosso elo em comum: o TJRU.
Taylor Jenkins Reid Universe.
Quando li Daisy Jones & The Six pela primeira vez, o mundo não era um cenário apocalíptico ainda. Era a última semana de dezembro de 2019, num sítio isolado onde o único sinal com o mundo externo era por um telefone na parede da sala, minha única preocupação era deixar a massa de cuscuz no ponto certo pra comer no café da manhã na varanda, só pra logo depois colher mangas no parquinho, passar protetor solar, e ficar pra sempre na espreguiçadeira na beira da piscina, com toda uma floresta atrás de mim.
Nessa época eu também estava apaixonada por alguém que eu achava não poder ter. Saí para o meu retiro espiritual certa de que aquilo seria bom, que eu não só precisava como merecia passar dias sem contato externo, sem ansiar a próxima mensagem que o objeto do meu amor não correspondido poderia me mandar. Toda manhã eu fazia meu cuscuz, colhia minhas mangas, colocava um biquini e saía pra piscina, procurando uma sombra em que eu pudesse sentar com o livro de minha escolha, e finalmente, depois de muito tempo, relaxar.
Exceto que o livro que eu levei foi Daisy Jones & The Six. E a piscina era ótima, a floresta com trilha atrás de mim era ótima, a completa falta de barulho humano dando lugar ao barulho da natureza era ótimo - mas, ainda assim, eu era uma menina com um amor não correspondido que estava lendo Daisy Jones & The Six.
Seguro dizer que ali, mesmo na beira da piscina usando um chapéu azul, eu estava em completo estresse por ser uma Daisy Jones perdidamente apaixonada por um Billy Dunne.
Mas isso é história pra outro tipo de texto.
(sim, nós namoramos hoje).
Depois de alguns livros completamente normais, nada muito diferente do conteúdo de qualquer outro livro young adult de livraria de shopping, Taylor Jenkins Reid descobriu, numa revelação que só pode ter sido Divina, que seu nicho era um bem específico: escrever histórias sobre pessoas famosas que não existem. Tenho essa teoria de que os livros da Taylor que tratam sobre fama fizeram tão mais sucesso que seus romances básicos anteriores porque esses famosos parecem mais reais do que os anônimos dos livros de sessão da tarde.
É improvável que você termine Evelyn Hugo sem pensar quem seria a Evelyn Hugo da vida real. É improvável que você termine Daisy Jones & The Six sem pesquisar se essa é uma banda que existiu de verdade. "Eu acabei de ler um memoir de uma banda real que eu nunca ouvi falar?"
Todo mundo quer saber quem é, quem foi, ou quem teria sido Evelyn Hugo, Daisy Jones, Mick e Nina Riva. Absolutamente ninguém vai ligar se Emma Blair é uma pessoa que existiu ou não, em quem ela é inspirada, quem ela poderia ser. Quem diabos é Emma Blair?*
Pra mim, essa é a magia do universo da Taylor Jenkins Reid, onde a menção de novas personalidades públicas em cada livro pode virar um nova história, um novo enredo, uma nova fama. E se você lê esse blog, é certo que você gosta de fofoca de Hollywood. Então não interessa se de cabelo de lado ou no meio, todo mundo tem Taylor Jenkins ao seu favor.
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Minha paixão por bandas de rock vai beeeem mais atrás, em tardes na casa do meu pai, grandes caixas de som e pendrives no som do carro. Meu pai se denominava uma "enciclopédia do rock", nas palavras dele, e tudo do mais clássico ao mais underground eu ouvia. Tinha de ouvir. "Rock não foi feito pra se escutar em volume baixo", meu pai também dizia.
Que Deus o tenha.
Ele não morreu, ele só parou de falar comigo.
Eu e meu pai sempre tivemos uma realidade e vivência conturbada - ele conseguia ser a parte mais normal e mais tóxica da minha vida, ao mesmo tempo. Ao sair dela, meu pai não me deixou muitas coisas. Mas uma herança cultural ele deixou. Não tenho pra quem ligar quando brigo com minha mãe ou quando furo o pneu do carro, mas ainda tenho histórias sobre discos do Raul Seixas, rankings dos melhores bateristas de rock da década rereretrasada, intrigas de colegas de banda e uma curadoria das melhores lojas da Galeria do Rock pra achar camisetas de heavy metal - inútil pra muitos, mas da qual me orgulho muito.
Ler Daisy Jones & The Six na beira da piscina, além de me trazer de volta os sentimentos que eu estava tentando evitar, também era como ter meu pai nos finais de tarde, me levando pra tomar sorvete na farmácia da esquina, só porque ele podia, só porque tínhamos a chance. Era retornar ao banco do passageiro e falar pra ele, orgulhosa, que eu tinha achado uma banda de rock boa o suficiente pra ter criado coragem de mencionar pra ele em primeiro lugar - justo ele, que passou 40 anos da vida fazendo uma curadoria das melhores. Se ele curtisse, se ele pedisse pra ouvir de novo ou perguntasse quem era - se ele se interessasse de alguma forma, eu teria ganhado meu dia.
Esses são os álbuns que eu mostraria pro meu pai no carro, no caminho da escola pra casa, torcendo pra que ele gostasse tanto quanto eu. Se Daisy Jones & The Six fosse uma banda que de fato existisse, nós tocaríamos no carro assim:
01. Teatro d'ira: Vol. I - Måneskin
Sabe quando você esbarra em uma nova manifestação de arte, que antes você não conhecia, e pensa "isso foi feito pra mim"? Måneskin foi feito pra mim. É mágico ter match artístico, que te faz ser grato por estar vivo e ter a oportunidade de conhecer algo que fala à sua alma - algo que não acontece com muita frequência no capitalismo, onde ninguém fica feliz por estar vivo. Mas tem aqueles momentos, raros momentos, que você esbarra no trabalho artístico de alguém que preenche todos seus requisitos: Uma baixista gostosa? Tem. Um vocalista que poderia ter sua foto estampada na bandeira bissexual? Tem. Rock com muitos solos de guitarra? Tem. Músicas em italiano, pra facilitar que você finalmente aprenda a língua que mais admira? Tem também.
É uma banda de rock italiana com um monte de gente gostosa, o que mais vocês querem de mim?
Teatro d'ira: Vol. I é o segundo álbum de estúdio da banda, e o mais recente. Totalizando apenas oito músicas, esse álbum foi escrito em sua totalidade pelos quatro integrantes, da primeira até a última nota, sem interrupção de compositores e letristas externos. É um trabalho que é pra ser deles, feito apenas por eles, contando sobre eles. E funciona. Meu Deus (Dios mio), como funciona.
Se Måneskin fosse Daisy Jones & The Six, na verdade eles seriam só os The Six. Måneskin é definitivamente o que os irmãos Dunne achavam que eram quando começaram, quando só queria expressar a frustração de ser jovem na década do rock, e a eterna condenação de não se encaixar. Esse seria um álbum feito pelos The Six sem a presença de uma Daisy, sem a presença dos dramas e brigas e greves de gravação por não se suportarem. Quando tudo era arte e fraternidade, The Six teria feito esse álbum.
Billy e Graham Dunne, ao se reconhecerem como futuros artistas, ao desejar a fama e a oportunidade de fazer música de garagem em garagem, provavelmente tinham o ar insolente e autoconfiante que Zitti E Buoni traz, com não só o sentimento de ser melhor que as mentes pequenas ao redor, mas o conhecimento de que isso é verdade. Coraline, que poderia muito bem chamar-se Camila, é uma música sobre essa personagem que sente tudo mais do que todo mundo, que é bondosa ao ponto de colocar suas necessidades atrás das que qualquer outra pessoa ("Coraline chora, Coraline tem ansiedade, Coraline quer o mar mas tem medo da água, e talvez o mar esteja dentro dela"). Essa música é um poema de amor de 5 minutos para Coraline, nossa Camila Dunne. É sobre reconhecer a pureza do seu amor, reconhecer que não é merecedor de tanta gentileza, mas oferecer o pouco que tens para dar ("Em troca não peço nada, só um sorriso, dada pequena lágrima sua é um oceano sobre meu rosto"). Coraline é definitivamente uma música que Billy Dunne, pré-fama, escreveria sobre Camila, o lugar onde ele achou o amor pela primeira vez.
Vent'anni, uma balada que vai crescendo conforme o desejo do narrador de se libertar das algemas dos vinte anos, demostra o maior medo de qualquer artista do rock: morrer e ser esquecido sem deixar nada significativo em terra. É uma homenagem ao quão deprimente os 20 anos podem ser, com a mistura de sentimentos diferentes vindo de todos os lados. É o sentimento pré-fama de qualquer artista que promete se manter verdadeiro ao lugar de onde veio, mas que mal pode esperar pra tudo mudar, e logo as lanchonetes de estrada dão lugar aos restaurantes que servem cocaína na bandeja.
Teatro d'ira se traduz livremente para Teatro da Ira. Não acho que os The Six tinham essa ira enraizada ao se unirem - mas sei que cada um tinha a sua, individualmente. É a sina de qualquer juventude, de qualquer geração. Não é a ira dos affairs entre integrantes de banda, ou do Eddie querendo socar a cara do Billy no chão. Essa é a ira de qualquer jovem no século da depressão, onde sua raiva é só por estar vivo, por ser obrigado ao ser uma existência pensante.
(Eu mencionei que todos os integrantes dessa banda são Geração Z? Isso é uma epidemia).
Para ouvir também: Lividi Sui Gomiti, I Wanna Be Your Slave, La Paura Del Buio
02. The Civil Wars - The Civil Wars
Quem é Daisy Jones e Billy Dunne na vida real? São eles.
Os motivos pra isso dão conteúdo pra uma dissertação sozinha, e é tanta coisa e tantos detalhes que eu tive que ir atrás de fontes diretas** que soubessem me contar a história melhor do que qualquer pesquisa superficial no Google.
O que eu entendi lendo por cima e recebendo fofocas desses dois, é que ninguém sabe exatamente o que deu errado. O que te leva a abruptamente romper projeto e qualquer tipo de relacionamento com seu parceiro musical? O que acontecia nos bastidores, nos ensaios das harmonias de vozes de ambos, que casavam tão bem? Qual era de fato a inspiração nas composições que ambos compartilhavam? Como eram tão musicalmente íntimos e despidos, tão parte do próprio mundo, sendo casados com outras pessoas?
Se Daisy Jones & The Six tivesse tido tempo o suficiente para ter mais de um álbum, algum dos não lançados seria qualquer um dos álbuns de The Civil Wars. Pedi que algumas amigas mestres no assunto me indicassem um, um que representasse um álbum não lançado de DJ&TS, perdido em fitas demos. A resposta foi a mesma: The Civil Wars, homônimo da banda.
Conta a história que o álbum terminou de ser gravado em meados de 2013, e a esta altura a dupla já nem conseguia se olhar diretamente, como mostram filmagens tremidas de shows na época. Já tinham todas as bandeiras vermelhas levantadas: falta de contato visual, esquecimento proposital de agradecimentos em palco, a escolha por ignorar que ambos trabalhavam juntos. Antes mesmo desse álbum ver a luz do mundo, Joy e John Paul tiveram uma turnê interrompida, devido a "brigas internas e diferenças irreconciliáveis". Lembra alguém?
Mesmo depois de largar uma turnê pela metade, o duo voltou com o álbum The Civil Wars, em um compilado de músicas que em sua grande maioria falam de devoção humana em contradição à devoção divina, relacionamentos fadados ao fracasso, traição e pessoas que vão embora levando consigo seus sentimentos. É de se pensar...
Meu primeiro contato com The Civil Wars, o duo, foi quando descobri a música Poison & Wine, tantos anos atrás, do primeiro álbum deles, o Barton Hollow. Essa música sempre foi minha música referência ao imaginar como soaria Honeycomb, o primeiro e famoso dueto de Daisy e Billy no livro. Se Honeycomb fosse uma música real - e vai ser, em breve, mas se fosse uma música que já existe -, seria Poison & Wine. O álbum The Civil Wars seria algo posterior, algo pelo final, algo que representa o conhecimento de sentimentos de ambas as partes, um sentimento que nem deveria existir, e que envolve mais de duas pessoas.
A música que abre o álbum The One That Got Away, significativo logo no título, e o primeiro verso cantada é "I never meant to get us in this deep / I never meant for this to mean a thing". Se eu tivesse uma dupla em que canto músicas de amor com meu companheiro platônico, eu simplesmente escolheria não abrir um álbum com essas palavras, não depois de largar uma turnê por tensão mútua. É curioso que durante toda a extensão do álbum seja possível achar pistas de infidelidade, e cabe a você decidir se isso vem do eu-lírico ou do próprio compositor da música. Em Eavesdrop eles me entregaram minha letra favorita do álbum inteiro quando cantaram "let’s let the stars watch, let them stare / let the wind eavesdrop, I don’t care", o que te faz questionar o que exatamente os narradores tem de esconder.
The Civil Wars (o duo) por si só é uma experiência completamente Daisy Jones & The Six das ideias - mesmo que as músicas não se relacionassem à história, mesmo que as teorias não fossem semelhantes. Assim assim ficaria a pergunta: o que diabos aconteceu?
É a síndrome da Aurora de novo e de novo e de novo.
Para ouvir também: I Had Me a Girl, Same Old Same Old, Oh Henry
03. Plastic Hearts - Miley Cyrus
Se Måneskin é os The Six sem a Daisy Jones, Miley Cyrus em Plastic Hearts seria a Daisy Jones sem os The Six.
Se Demi Lovato teve suas 24 personalidades destrinchadas nos últimos dois posts, Miley Cyrus possivelmente teve o dobro. Mas sabe aquela sua persona que, por mais que seja falsa, é a mais legal de todas? A da Miley é essa.
Tem uma certa nostalgia nessa nova onda do ressurgimento de mais músicas rock e punk voltando à indústria, seja lembrando-se do gosto musical dos senhores nossos pais ou só mesmo recordando de icônicas trilhas sonoras de filmes adolescentes dos anos 2000. Não importa quem somos hoje, todos nós já compartilhamos um sonho: fazer parte de uma banda de garagem, uma tão boa quanto a banda da Lindsay Lohan em Sexta-Feira Muito Louca. Tem algo que grita em celebração à nossa primeira juventude, à nossa rebeldia de adolescência, quando ninguém nos compreendia e tudo estava começando a mudar, mas solos de guitarra ainda podiam nos abraçar.
Pra todos que tiveram seus lápis de olho e franjas lambidas pro lado, esse é um álbum pra você.
Daisy Jones não precisava ser adolescente pra ser a maior das rebeldes, a menos incompreendida da turma. Acredito muito que Plastic Hearts poderia ser uma obra dela, só dela, em que ela usaria suas composições autorais pra propagar que prefere sua liberdade à prisão de uma banda (um amor) que nem sequer queria sua presença (I was born to run, I don't belong to anyone, I don't need to be loved by you em Midnight Sky), pra falar mal do Billy Dunne nas entrelinhas e ao mesmo tempo confessar seu amor na faixa seguinte. Sozinha, Daisy teria sido uma honestidade bruta e agressiva, assim como Miley foi nesse disco - mas sem nunca perder sua vulnerabilidade, que, mesmo escondida por trás de várias camadas de desilusão, ainda continua lá, intocável (High e Never Be Me, que falam sobre nada ser o suficiente, e sobre você mesma não ser suficiente pra ninguém).
WTF Do I Know, a faixa que abre o álbum, seria perfeita pra uma Daisy recém afastada dos The Six, sem remorsos, sem explicações pra dar, continuamente sustentando o discurso de que ela não precisa deles - não pode ser de fato o que ela acredita, mas sim pra irritar os que ficaram. A vingança favorita de um incompreendido é aparentar ter saído superior àqueles que não te levantaram, e eu acredito que um rompimento da Daisy (sem a carga emocional de seu envolvimento com Billy), poderia ter se dado assim. Mas como a história é outra, como temos nosso romance proibido de bastidores entre integrantes da mesma banda, a que melhor cabe na nossa narrativa mesmo é Angels Like You.
Angels Like You é uma daquelas músicas que se encaixa com muitas coisas, diferentes coisas. Mas é definitivamente uma música que Daisy Jones escreveria sozinha, gravaria sozinha, só pra ter o Billy a acompanhando na guitarra no final. Mesmo que ele soubesse que grande parte do que está sendo cantado em sua frente é sobre ele mesmo.
É um álbum sobre exaltar a si mesmo, sobre pontuar o quão superior e mais legal que todo mundo você pode ser - só pra depois quebrar essa expectativa confessando que você nunca vai ser a certa pra alguém, por estar constantemente se destruindo, por não querer mudar por ninguém. Nada mais rock 'n' roll do que pontuar seus defeitos e agarrar-se a eles, por não saber quem é de verdade debaixo de toda a persona rebelde que construiu depois de muitos traumas. Nada mais rock 'n' roll do que celebrar a liberdade com uma discografia quase que inteira compartilhando que sente-se preso em si mesmo.
Daisy Jones é complexa o suficiente pra entender exatamente o que isso quer dizer.
Para ouvir também: Gimme What I Want, Hate Me, Golden G String
04. Rumours - Fleetwood Mac
Vocês sabiam que esse tava vindo.
Esse álbum é uma montanha-russa emocional de fofocas e intrigas - e o melhor é que não eram fofocas e intrigas externas. Era entre eles. Eles falando sobre eles, eles brigando via música, eles se obrigando a cantar e performar tais músicas. Que outro álbum te dá a oportunidade de experimentar uma música sobre amar seu atual namorado (You Make Loving Fun), o diretor de iluminação da banda, e ter seu ex marido não apenas sabendo disso, mas também tocando baixo na mesma banda? É bom demais.
Christine McVie e John McVie não eram os únicos que estavam separados e escrevendo sobre no mesmo ambiente de trabalho. Um só casal em conflito não era o suficiente. Entra Stevie Nicks e Lindsey Buckingham, sempre correndo juntos no precipício do amor e ódio, sempre em discordâncias, mas bons demais no que faziam pra saber que, pelo menos musicalmente, se completavam. Até contando a mesma história duas vezes, cada um em seu ponto de vista, nos ofereceu músicas individualmente muito boas: sobre a separação, Stevie fez Dreams, que já começa com a memorável abertura "Here you go again, you say you want your freedom / It's only right that you should play the way you feel it / But listen carefully to the sound of your loneliness", endereçado à Lindsey; Lindsey, por sua vez, a responde em Go Your Own Way com "how can I ever change things that I feel? / You can go your own way / You can call it another lonely day".
Foi só em The Chain que todos os integrantes da banda colaboraram juntos, a única do disco em que eles cederam a fazer isso. A responsável por isso é a própria música: é sobre eles. É sobre eles já se odiarem em níveis inimagináveis, mas sobre não querer romper o vínculo, essa corrente que os unia segurando a única coisa que ainda tinham em comum: seu amor pela música que faziam. Tá tudo na própria música. Eles estavam ali, apesar do ambiente, por causa dessa corrente invisível que ainda os unia. If you don't love me now... definitivamente nunca mais amará.
Os bastidores do processo da gravação do Rumours era caótico, problemático, doloroso e agressivo - eles não se suportavam mais, e ainda assim tinham de produzir dentro de um cubículo por dias e dias. Os sentimentos rompidos e a pressão de fazer-se vulnerável justamente na frente de quem te machucou foi algo que futuramente a Christine McVie caracterizaria como um "processo traumático". Stevie Nicks chegou a falar, também, que aquilo que eles estavam vivendo, naquele ambiente, não era normal: muita cocaína, muito dinheiro, e muita, muita angústia. Não precisa ser um grande entendedor de rock pra saber que essa é a fórmula mais antiga e mais bem sucedida de sucesso musical dos anos 70. Eles estavam no pior momento entre si, e é claro que isso resultou em um dos álbuns mais icônicos da história musical.
Obviamente, o Rumours é nosso Aurora.
Me limito a dizer só isso, sem apontar quem seria quem, que música seria o que. Se tem um resultado musical capaz de separar uma banda, esse seria o Rumours, como foi com o Aurora pra Daisy Jones & The Six.
A essa altura eles já devem ter aprendido que quanto mais controverso e problemático, mais obcecados ficaremos.
Isso é rock 'n' roll, baby.
Para ouvir também: Never Going Back Again, Don't Stop, Songbird
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* Emma Blair é uma personagem da Taylor Jenkins Reid, do livro "Amor(es) Verdadeiro(s)", não tão memorável quanto suas irmãs;
** Mari e Babi, obrigada por contribuírem com seus conhecimentos de The Civil Wars!