Archive for 2017

happy fucking new year

É incrível o que pode mudar em 1 ano. 

(Esse é mais um texto clichê/reflexivo de fim de ano, porque é o que acontece e aparece nessa época, e eu sou sensível demais pra me deixar levar. Fico um pouco mal pensando "poxa, lá vou eu escrever sobre minha vida de novo, absolutamente ninguém quer saber". Mas aqui eu troco meu constante papel de ouvinte pro de oradora. E as minhas experiências e situações são as únicas que eu conheço. E é isso que eu tenho pra oferecer.) 




Não sei exatamente como ou porque, mas do nada lembrei dessa pergunta no meu Curious Cat do dia 3 de Janeiro de 2017. O que eu sei é que a resposta nunca saiu da minha cabeça porque me assustou. Me assustou pensar, logo no começo, sobre o que esse ano me traria, mesmo que fosse baseado numa brincadeira inofensiva de abrir um livro às cegas pra definir isso. O engraçado de ter ficado com medo do que poderia vir a acontecer com base nessa resposta é que o que realmente aconteceu encaixou perfeitamente nela.

Os últimos 365 dias foram estupidamente intensos.

Eu viajei to where-the-culture-is (lugar que quero estar, assim como a Lady Bird), podendo dividir uma das melhores experiências da minha vida com uma pessoa que eu amo, num lugar que eu amo. Eu e Cecilia, quando vimos aquele episódio de Glee que Kurt e Rachel invadem o teatro de Wicked na Broadway pra cantar For Good, falamos que faríamos o mesmo um dia. Nossa viagem pra São Paulo é o equivalente a Kurt e Rachel em NYC e, muito embora não tenhamos invadido teatro algum, no meu coraçãozinho eu poderia começar um dueto espontâneo de For Good para e com ela a qualquer momento. Eu conheci gente que me devia um abraço há anos, tamanho o tempo que estavam na minha vida mas sem a possibilidade de olhar olho no olho. Também conheci gente que nunca tinha trocado mais que 3 palavras, mas hoje sei que, quando eu voltar, serão as primeiras que irei chamar. Conheci gente que eu queria, conheci quem eu não sabia que queria conhecer e conheci até quem eu definitivamente não queria. 

Eu respirei pura arte e fiquei em contato direto com artistas por dias. Eu andei museu após museu, analisei de Van Gogh à Tarsila do Amaral. Eu ouvi histórias de gente que hoje está onde eu só sonho em chegar nos meus devaneios. Eu vi musicais ao vivo depois de anos. Eu fiquei bêbada pela primeira vez mesmo dizendo que não estava. Eu ri bastante. 

A diversão é tudo. E, mesmo assim, continuei sentado ali, repetindo a mim mesmo: não estou feliz. Não estou feliz.  

Eu também chorei bastante. Foi um ano, como sempre quis a Kylie Jenner, de descobrir as coisas. Descobri que, mesmo com experiências incríveis que marcaram a minha vida, eu não estava feliz. Descobri que meus pensamentos poderiam ser tóxicos a mim mesma. Descobri que não tem nada poético (ou sexy, como diria uma canção de Crazy Ex-Girlfriend) em querer literalmente morrer, ou ter vontade de qualquer coisa próxima a sumir do universo sem sentir dor. Tive o pior aniversário da minha vida. Os piores períodos da faculdade, ao ponto de chorar todo dia depois da aula, como se a vida fosse um último ano do Ensino Médio de novo. Descobri que nada disso era normal e eu precisava de ajuda, e que o interessante sobre isso é que a ajuda que você precisa raramente vem de quem você um dia esperou que viesse, ou de quem você queria que estivesse ali pra te ajudar. Eu perdi muita coisa, mas muita coisa mesmo. Perdi coisas que eu achava que precisava ter por perto pra que eu funcionasse.




E parando pra olhar agora, tudo isso junto num pacote foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido num universo de 12 meses. Nunca aprendi tanto sobre a vida real, sobre mim mesma, sobre a importância de desabafar e compartilhar sua dor quando você não aguenta mais fazer isso sozinha do que nos últimos 365 dias. Eu consegui minha ajuda, e aceitei ela do jeito que ela veio e de quem me deu, porque não tinha mais como esperar isso de quem nunca iria me oferecer. Levei a sério meu tratamento, sem demonizar medicação. Eu fui pra um Congresso de Direito e fiquei realmente satisfeita de estar ali. Eu ganhei a tão desejada LIBERDADE™,  dentro dos limites. Eu ganhei um carro, ganhei um irmão mais novo, ganhei uma banda.

Em contraste às pessoas que perdi, eu conheci e ganhei muitas outras. Não que ninguém substitua ninguém, porque, pra quotar aquele filme, "todo mundo é feito de detalhes específicos", mas tem sido uma experiência incrível analisar tais detalhes que nunca tinha tido contato antes e juntar com os meus.

Infelizmente a gente aprende que a vida real não é uma série. Não dá pra querer medir nossos anos como se fosse uma temporada fechada de 13 ou 24 episódios, e analisar o que aconteceu em 12 meses só pelos específicos de situações boas ou ruins. Não tem showrunner nenhum escrevendo nossa história, mas se tivesse, eu preferiria um desenvolvimento de personalidade à uma trama previsível cheia de fan service. Por sorte, meu character development foi incrível. E fui eu mesma que escrevi.

Esse ano não foi sobre os momentos bons se sobrepondo aos momentos ruins ou vice versa. Foi sobre tudo que eu tirei do conjunto deles, e sobre a pessoa que me tornei. Em Janeiro, se alguém me colocasse de lado, eu só confirmaria meus próprios pensamentos sobre o quão inútil e substituível e não-o-suficiente eu sou. Hoje, se alguém me fala ou demonstra silenciosamente que sou necessária de alguma forma, minha reação é basicamente essa: 




Eu sempre admirei muito aquela frase "eu conheço o meu valor, a opinião dos outros não me importa" da Peggy Carter. E eu sempre reproduzi, mais como um mantra de algo que eu queria acreditar um dia do que algo que eu realmente sentia. E hoje, depois de tudo, eu acredito. Eu não só vivi os últimos 365 dias, eu literalmente sobrevivi os últimos 365 dias, e, com tudo que eu aprendi, sei que conseguiria fazer de novo.

Em outra pergunta no meu Curious Cat de Janeiro sobre "o que eu esperava de 2017", eu respondi "autoconhecimento". Além de um ano cheio de luz e feitos incríveis, é o que eu mais desejo pra todos vocês. Funciona, e é lindo. Conheçam seu valor, mesmo que os outros não reconheçam. E, se algum dia o Darren Criss chegar pra vocês falando o quão sortudo ele é de ter alguém assim na vida dele, a resposta é sempre a mesma: Sim, é verdade. 

 


Esse ano eu também criei uma newsletter, e sou grata demais por ter pessoas tão amáveis por perto, que tiraram um tempinho pra ler e elogiar minhas palavas, fizessem elas sentido ou não. Eu escrevo o que não consigo mais guardar pra mim, e se eu consigo tocar pelo menos uma pessoa no processo... já é mais do que eu poderia pedir. 

Feliz ano novo, chuchus!! Obrigada por terem chegado e me acompanhado até aqui. Que 2018 não seja apenas suave com vocês, porque a gente não aprende só com a calmaria. E boa sorte.



(P.S.: Mesmo sendo a cópia em personalidade de Kurt Hummel, minha ficha sobre como esse ano foi na verdade a pretty good year pra mim não caiu quando o Darren Criss finalmente disse que me amava. Mas nunca vou ter palavras pra agradecer pessoas de alma bonita que entraram na minha vida dando um pouquinho de amor todo dia e, consequentemente, me ajudando a ver que eu mereço, sim, amar e ser amada. Então, como de costume, Kurt: de certa forma, eu te entendo.)
 

 
até a próxima, 
deni out. 🌻 

a história que eu nunca contei (e o que tirar dela)

(esse texto pode conter gatilhos) 

É difícil falar ao certo quando eu comecei a me sentir infeliz.

Minha primeira memória de um ataque de ansiedade volta pra quando eu tinha 5 anos, talvez até menos, e comecei a chorar sozinha por toda a agonia, medo e aflição que eu tava sentindo. Quando minha mãe me achou do lado de fora de casa e perguntou o que tava acontecendo, lembro de responder que tava com medo de ir pro inferno quando morresse. 

Minha mãe sempre foi muito religiosa e sempre me incentivou a fazer o mesmo. Faltar igreja em dia de domingo era inadmissível e só acontecia em casos graves de doença ou viagem (e olha que mesmo assim ela procurava outra igreja pra ir na cidade em que estávamos). É no mínimo interessante pensar que algo que supostamente deveria me ajudar espiritualmente é a primeira coisa que tenho memória de me causar um medo irracional e de me fazer sentir que, se eu errasse nessa vida, nem Deus iria me perdoar. E o inferno nunca me pareceu um bom lugar pra se estar. 

Eu fui crescendo e passei de medo irracional a medo generalizado. Não podia decepcionar minha mãe, ela era o único companheirismo real que eu conhecia. Não podia decepcionar minha avó, que iria culpar minha mãe por não ter me educado direito, porque na época dela "as coisas eram diferentes". Não podia decepcionar meu pai, com quem eu nem tinha um contato tão grande na época, só o encontrando em aniversário e dia dos pais. Nem o resto da minha família, nem os poucos três amigos que eu tinha (as outras crianças diziam que eu era "gorda demais" pra andar com elas), e nem Deus. Eu fui me construindo num pensamento absurdo de que não podia errar de jeito nenhum. Errar decepcionaria pessoas com quem eu me importava e que esperavam de mim o melhor. Errar me fazia sentir pequena demais. Errar levava pro inferno. 

Era quase impossível não ter desenvolvido ansiedade crescendo como eu cresci, e eu não culpo ninguém por isso. De certa forma eu mesma construí o caminho que me trouxe até aqui, eu mesma me prejudiquei. E olhando pra trás, não lembro de nenhum momento da minha vida que me senti tranquila ou em paz, ou que a resposta pra "você é feliz?" fosse instantaneamente sim. Foram anos me escondendo com medo de ouvir humilhações públicas pelo meu peso, pelo meu cabelo que era bagunçado demais, pelos meus dentes que não tinham alinhamento nenhum. Noites sem dormir direito porque alguma criança com muito ódio no coração dizia na escola que ia me matar e matar minha mãe também. Anos ouvido que meu pai nunca se importaria comigo como minha mãe se importava. Que eu não podia comer isso, nem aquilo, nem colocar ketchup naquela pizza porque já tava "gordinha demais". Que alisar o cabelo era necessário a cada 6 meses se eu quisesse que ele ficasse bonito. Foram anos ouvindo demais, e sentindo demais, e sem saber o que fazer com tudo isso, só deixando pra lá. 

Deixar pra lá sempre foi minha reação #1, uma vez que eu não sabia muito como falar sobre as preocupações de tirar o ar que eu tinha em relação a tudo, porque ninguém entendia ou veria isso como uma criança tendo que lidar com ansiedade logo cedo. Ou era drama infantil ou era algo que diziam "é assim mesmo", como se fosse normal ter que lidar com isso porque "faz parte" da experiência social de qualquer pessoa que tá crescendo e conhecendo o mundo. Isso me deixou tão ruim em lidar com minhas próprias emoções que quando minha avó morreu, avó essa que morava comigo e com quem tive contato todos os dias até os 7 anos de idade, minha primeira reação foi rir. Eu ri porque achei engraçado todo mundo começando a chorar automaticamente, porque até então eu não conhecia o choro dolorido. Eu só conhecia a dor, que enfiaram na minha cabeça como sendo algo "necessário" ou que "não dava pra fazer nada a respeito". Quando você reprime muita coisa, você desconhece o choro de desespero que quer deixar os sentimentos saírem. Então eu ri, e meu primo mais velho virou pra mim com uma cara incrédula, e mesmo não lembrando as exatas palavras dele, eu lembro exatamente a cara de indignação. "Por que tu tá rindo? A vovó morreu." Fiquei tão envergonhada que não respondi, só fui pro quarto fazer dever de casa. O funeral da minha avó foi na nossa casa. Foram horas com muita gente entrando e saindo numa casa que antes eram apenas três mulheres, avó, mãe e filha. Vi minha avó sendo velada e enterrada e não derramei uma lágrima. 

O que eu não chorei quando criança eu chorei na pré-adolescência. Ao ponto de chorar durante as aulas e amigos virarem pra mim e perguntarem, meio sem paciência: "É serio? De novo?". Provavelmente foi resultado daquele ditado que fala que guardar muita coisa uma hora te faz explodir porque não tem mais espaço. Eu ainda não tinha consciência da minha própria ansiedade na época, e no quão incapacitante ela era. Na minha cabeça eu só era estranha e fracassada demais porque não conseguia nem queria fazer o que todo mundo da minha idade perto de mim tava fazendo. Eu não queria ir pras festinhas e dar o primeiro beijo com um menino aleatório e falar sobre isso com todo mundo segunda de manhã. Acho que nem era muita questão de "não querer", e mais de sentir que não me encaixava ali, ou em lugar nenhum, e não conseguir nem tentar. Eu era o típico cliché americano que vivia com a cara enfiada num livro young-adult durante as aulas e intervalos, tinha um grupinho de 2 amigos que ninguém entendia também, e, ao contrário de todos os filmes com essa premissa, nunca teve nenhum acontecimento ao longo da minha vida que me transferisse de awkward pra cool

Quando minha mãe engravidou, o drama da filha única pré-adolescente passou disso pra ansiedade descontrolada. Eu tinha raiva da minha mãe por ter engravidado, eu tinha raiva da minha irmã (que eu inclusive chamei de feto por meses já que não me referia à ela como um ser com vida), eu egoistamente tinha raiva do universo inteiro que me deu uma mudança gigantesca dessas pra lidar quando eu mal conseguia digerir a mínima mudança de rotina nos meus dias sem surtar completamente. Escrevi uma carta de 5 folhas frente e verso pra minha mãe, explicando que não me sentia feliz, não fazia ideia de como era felicidade, e em como ela não me dava mais atenção ou carinho e isso me fazia sentir mais sozinha e incompreendida do que sempre fui. Nunca entreguei a carta. Foi nesse período que lembro de pensar pela primeira vez que eu era infeliz e que nunca conheceria a tal da felicidade de verdade, porque não conseguia sentir nada além de frustração. Descontei tudo isso em comida, e entrei num ciclo de comer bem mais que o necessário pra me sentir melhor (ou sentir qualquer outra coisa que não fosse o que eu sentia), sabendo que horas depois isso só ia me deixar mais miserável ao olhar no espelho e lembrar que ninguém se enturmava comigo ou me permitia brincar pelo pátio da escola porque eu era gorda. 

Quando minha irmã nasceu, nem tudo mudou, mas minhas perspectiva era outra. Éramos de novo três em casa, mãe, filha e filha, e eu já não tinha problema em dividir minha figura materna ou brincar de ser uma eu mesma. Mas o sentimento de não conseguir me encaixar em lugar nenhum, de não acompanhar o que agora quase-que-propriamente-dito-adolescentes faziam, e de nunca entender nada disso, sempre ficou. Lembro de fazer um post gigantesco num Tumblr privado por senha sobre tudo que tava acontecendo, e sobre me sentir assim, e sobre tratar as pessoas mal porque não sabia lidar com isso e depois ficar pior ainda por ter descontado em alguém. Foi um post quase que como esse, só que aos 13 anos de idade, quando eu achei que minha vida inteira tava desmoronando depois de me apaixonar desesperadamente pela primeira vez e ver tudo dando errado e ter sofrimento que nenhuma pessoa aos 13 anos deveria ter tanto pela falta de maturidade e nível de peso emocional envolvido. Era um desabafo escrito tão grande que hoje eu só lembro de uma frase. Provando as voltas que o mundo dá, a frase dizia: "eu só me sinto feliz de verdade quando chego em casa e vejo minha irmã". Eu só mandei o link desse Tumblr junto com a senha pra uma pessoa. Uma. A gente só falou sobre isso, e em como meu texto deixava claro que eu não queria continuar vivendo, não por um só aspecto da minha vida mas por ela como um todo, uma única vez.

Eu lidei com essa entrada genial na adolescência (uma desilusão não só amorosa como pessoal, sem padrasto, vendo um divórcio de perto, e com uma irmã menor pra ajudar a cuidar) da única forma que meu eu de 2011 saberia lidar: ouvindo o álbum Unbroken da Demi Lovato. Foi quando eu comecei a prestar atenção na existência de depressão, e transtornos psicológicos em geral, só porque tinha alguém que eu gostava falando sobre. Mas nunca achei que fosse meu caso, ou que eu me enquadrasse em algo, já que sempre pareceu ser uma situação séria demais e eu me considerava um nada que nem direito de estar mentalmente doente tinha. 

Hoje, depois de ter chegado no fundo do poço ao ponto que tiveram que fazer uma intervenção e me ajudar porque eu já não conseguia mais pedir ajuda, eu tenho não só um diagnóstico, mas dois. Tenho que lidar com uma ansiedade incapacitante e um quadro depressivo que esteve comigo por tanto tempo que já não sei quem eu sou sem as duas brigando pra saber quem vai me foder mais. A nível de curiosidade, depressão e ansiedade às vezes aparecem juntas mas em mundo nenhum as duas são amigonas que cooperam uma com a outra, muito pelo contrário. Não tem nada de cooperação ou amizade nisso. Eu sempre tive uma ideia do que eu tinha, depois de aceitar que não era normal se sentir como eu me sentia todos os dias da minha vida, mesmo com amigos me cobrando um diagnóstico porque aparentemente eu precisava de um pra provar que meu sofrimento era real e não frescura ou drama meu. 

Então tá aqui pra quem sempre me cobrou um diagnóstico propriamente dito, que nunca me entendeu, que achava que eu era a própria personificação de uma drama queen quando chorava na escola todos os dias: meu nome é Denise Aquino, eu tenho ansiedade generalizada e depressão. E aqui é um pouco da minha história tendo que lidar com elas. Foram anos moldando quem eu sou hoje, e me dando experiência pra aguentar o trampo até não conseguir mais, mas isso tudo tá bem, bem longe de definir quem eu sou, porque eu sou muito mais que isso. 

Meu ponto aqui não é procurar escancarar meus conflitos numa tentativa de obrigar alguém a refletir "meu Deus, quanto sofrimento essa menina". É só relatar mesmo; e tentar mostrar na prática que às vezes parece que acabou e você não tem mais de onde tirar forças e parece que não tem ninguém contigo. E você continua. E vai de novo, e de novo, e de novo. Empurrar tudo com a barriga é útil até que dói porque o peso tá demais e já faz tempo que você se esforça. Meu ponto é mostrar que mesmo com um total de 19 anos só conseguindo lembrar de coisas ruins e traumáticas pra ilustrar a própria história, ainda tem outros incontáveis anos pela frente em que não precisa ser assim. Eu tô me medicando, mas anti-depressivo não é milagre. É um trabalho muito mais difícil do que lembrar de tomar um comprimido toda noite. É tentar se encontrar todos os dias mesmo que o seu eu controlado e moldado por uma doença pareça maior. É enfrentar os próprios medos todo dia. É treinar se lembrar a cada minuto que não, você não é um fardo e nem um desperdício de matéria no universo. 



Eu quis escrever essa letter porque tive que falar meu diagnóstico em voz alta várias vezes esse último mês: pros meus pais, pra médicos, pra amigos mais chegados. E sempre pareceu que eu tinha que sentir vergonha por isso. E eu realmente sentia, ao ter que tomar remédio em público e me perguntarem pra que era, ou tendo que falar sobre minha consulta na psiquiatra em voz alta em público por estar no telefone, ou não conseguindo explicar pra fisioterapeuta que não podia ir pro pilates naquele dia porque tinha terapia. Eu nunca consegui, sempre tinha algo me prendendo. E eu comecei a pensar, por que? Do que exatamente eu tenho que ter vergonha? Eu não tenho algo vergonhoso, eu tenho uma doença. E eu tô recebendo ajuda por ela. Não tem nada de feio aí. Feio foram as mãos que não me estenderam, os olhares que não viraram pra mim, e as cabeças que não entenderam. 

Eu tenho 19 anos e nunca senti que me conheciam de verdade. Porque nem eu me conheço de verdade ainda. Eu sou um trabalho em progresso. Eu sei quem eu sou hoje, mas não tenho ideia de quem eu posso vir a ser num futuro próximo quando eu voltar a ter controle de mim mesma, e das minhas emoções, e da minha personalidade e força de vontade. E sinceramente? Meu medo irracional de ir pro inferno por ser uma pessoa ruim já não me assusta tanto. Eu passei pelo meu próprio inferno pessoal em vida mesmo, e me senti presa nele por muito tempo, mas agora finalmente parece que eu posso dar o primeiro passo pra sair e encontrar quem eu posso ser fora disso tudo. 

E eu mal posso esperar pra conhecê-la. 

E se essa é uma verdade que eu consigo aceitar, por terem me oferecido outro ponto de vista pra essa situação toda, é algo que você também consegue. Então um girassol pra todos que já se sentiram uma aberração, que não conseguem se entender, que sofrem com pensamentos negativos sem controle, que se autodepreciam, que lutam com síndrome do impostor, não aceitam o próprio corpo, lutam com ansiedade, depressão, que sentem que não podem amar outra pessoa sem sentir medo do que vão falar, de serem ridicularizados, expulsos de casa, ou que não vão ser aceitos por isso. Que ouviram na escola que deveriam morrer só por serem quem são. Aos que nunca se sentiram amados na mesma intensidade que amaram. Aos que não se sentem prioridade de ninguém. Aos que sofrem em silêncio. E aos que sofrem alto também. 

Don't give up hope. Ever. Hoje pelo menos você é você, e isso é o suficiente. 💛


até a próxima, 
🌻

Neil Gaiman me deve uma sessão de terapia


Dentro dos n debates que tive nas últimas semanas sobre n assuntos, um ponto parecia sempre voltar à tona: a ideia de que todo mundo é horrível. Sei que não tenho muita credibilidade, mas isso tá longe de ser um reflexo do meu péssimo tratamento comigo mesma, ou pouca fé no resto do mundo. Pelo contrário, ser dura comigo nunca tirou minha mania de tentar achar que todo o resto do mundo estava pelo menos tentando seu melhor. Conversei muito nos últimos dias e, fosse discutindo sobre como a gente se acha uma bosta inútil, fosse debatendo sobre pessoas que realmente são bostas inúteis (ao meu ver), eu sempre batia na mesma tecla: todo. mundo. é. horrível.

A primeira vez que parei pra pensar nisso de verdade foi quando vi uma resposta do Neil Gaiman no Tumblr falando exatamente a mesma coisa. "Querido Neil, eu sou uma pessoa horrível. Como eu posso ser mais gentil?", a pessoa perguntava. As respostas do Neil são bem íntimas e específicas, ao ponto que, obviamente, tem uma diferença ao digerir as palavras dele em narrativa e as que ele escolheu compartilhar diretamente sobre o que pensa. Nessa em específico, Neil responde que às vezes suspeita que a gente é tudo horrível mesmo. Ou que somos humanos, o que pra ele é a mesma coisa. "​We are impatient, judgmental, irritating and irritated, grumpy, easily offended and the rest of it." E esses foram só os defeitos que ele nomeou. Imagina se eu coloco a minha lista. E você a sua. E eu a lista de todas as problemáticas de todo mundo que tenho ranço. O que me leva de volta à minha própria problemática de sentir ranço sem motivo aparente e ficar me perguntando qual é o meu problema.

A gente é insuportável pra caralho. A gente que reclama e a galera sobre quem a gente tá reclamando também. Absolutamente ninguém se salva.

A solução do Neil Gaiman pra isso (uma que eu, na minha ignorância, não tinha conseguido achar sozinha) é só fingir mesmo. Porque, seguindo essa lógica e parando pra pensar, não teria diferença você fazer o bem porque é o santo na terra e ama ajudar todo mundo e fazer o bem sendo o diabo tentando disfarçar: no final das contas, você ainda tá fazendo o bem. E ainda tá tocando a vida das pessoas positivamente. Quase que um "os fins justificam os meios" bem torto e muito fora de contexto, tão fora de contexto que se eu tentar o suficiente aparece um estudante de Direito gritando "MAS NÃO FOI ISSO QUE MAQUIAVEL QUIS DIZER!!!!11!!11". Essa sou eu tentando. Por favor, por favor, estudante de Direito. Grite comigo.

Mas e a intenção? E o 💞 coração 💞 e pura vontade da pessoa por trás das ações dela? Coisas que eu e provavelmente qualquer personagem de um filme da Disney já se questionou. Como poderia ser a mesma coisa, e será que, pelo amor de Deus, o Neil Gaiman poderia me responder?

Por um momento eu achei um absurdo, numa resposta tão pequena, todo mundo ser jogado no mesmo saco e ser equiparado à lixo. Tudo bem que eu concordava que todo mundo era um lixo, mas tinha a pessoa que mandou a pergunta, sensível o suficiente pra pedir uma ajuda porque queria tentar melhorar no que ela achava estar falhando, e tinha as pessoas que realmente eram impacientes, críticas, irritantes, irritadas, mal-humoradas e que se ofendiam facilmente. Tinha eu e tinha as pessoas que conseguiam ser piores do que eu. Todo mundo virava a mesma farinha no final? Não tinha nada pra medir? Eu sou chata pra caralho, mas, veja bem, acho que a moral duvidosa das pessoas que tenho ranço é algo a se levar em consideração.

No entanto, eu mencionei que a resposta dele era pequena. Não demorou mais do que esse debate interno pra fazer sentido.

Não sei se vocês sabem no que consiste, mas MBTI é um teste de personalidade e o único desse estilo que vocês vão me ver seguindo piamente de tão certo que deu comigo. De acordo com ele eu sou INFJ, e depois de muito ler sobre, descobri que é o tipo que mais sente empatia por todo fucking mundo. Conheço gente que não acredita em empatia, também conheço quem deteste o termo e o significado que comumente atribuíram, mas nesse caso sempre foi como uma empatia-esponja. Eu tentava sentir tudo que o outro tava sentindo porque me colocava no lugar dele demais. Isso sempre me levou a achar que as pessoas eram naturalmente boas (a sociedade que as corrompem) simplesmente porque elas tinham capacidade de sentir, e eu sentia por elas.

E deixa eu falar: procurar o lado bom de todo mundo, toda hora, é exaustivo. Principalmente quando você é esponja.


Esbarrar com essa resposta do Neil, que não chega nem a ser um texto sobre, me iluminou bastante em relação a isso. Foi como se ele tivesse pegado no meu ombro pra falar: não, meu anjo, todo mundo é horrível mesmo. A gente é cruel com a gente e com os outros. A diferença é que meu filtro é melhor do que o filtro das pessoas que eu detesto. Eu sei fingir melhor que sou uma boa pessoa, nos meus padrões de como-uma-boa-pessoa-deveria-ser. Na minha cabeça eu continuo sendo uma bosta, sem dúvidas. E talvez na cabeça deles, eles sejam incríveis porque eles tão no próprio padrão de como-uma-boa-pessoa-deveria-ser. Que não necessariamente é o meu padrão.

E é aí que eu fico o thinking emoji 🤔 e real queria sentar com o Neil Gaiman pra conversar sobre isso. Parece que eu tô criando justificativas pra falar "mas todo mundo tá no seu direito de ser horrível já que ninguém é igual!!!!" porque é isso que sempre faço. Não consigo simplesmente falar "você é uma bosta, muita paz." Desde que me entendo por gente, me considero uma pessoa em cima do muro. Tento dar voz pros dois lados, não porque os dois estejam certos, mas porque os dois merecem falar. Me pedir conselho é horrível porque eu vou te ajudar, mas também vou falar "por outro lado, você não sabe o que se passa com a pessoa x-". Parece que eu tô sempre mediando as coisas.

Mas eu disse que entendi o que a resposta quis dizer, e se é que consigo estar certa pelo menos uma vez na vida, que seja agora: não é questão de "todo mundo é bom" ou "todo mundo é horrível". Nunca gostei dos extremos (personalidade mediadora, MBTI tipo: advogado), não passaria a gostar agora. É o simples fato de que a gente pode ser bom. Mas a gente também pode ser ruim. E que, pra resumir tudo, a gente é uma mistura dos dois. Absolutamente todo mundo. Isso é natureza humana mesmo. A gente é um lixo, e sente ranço de quem quer que seja, mas a gente também tem empatia - ou simpatia, seja lá o que te deixe mais confortável. A gente abre a boca pra fazer comentários críticos mas tem uma consciência pra pesar depois. Toda a experiência em ser humano é viver e fazer coisas boas e ruins e isso é inevitável.



Como você escolhe lidar e filtrar essas experiências, as boas e as ruins, e como você permite que elas te moldem como pessoa, aí sim: é caráter mesmo, e a gente tem sim um controle nisso. É pessoal. Os atributos que o Neil citou pra exemplificar as "pessoas horríveis" que somos, são características que naturalmente vamos ter. O que a gente escolhe fazer com isso diz sobre quem somos.

Em uma das conversas que tive sobre isso, expondo sobre como as pessoas são, na verdade, ruins, e a gente custa em aceitar, minha amiga Ingred me enviou aquela cena de Doctor Who que eles discutem o fato do Van Gogh ter cometido suicídio mesmo depois de ter visto o "lado bom" da própria vida que, em sua história original, ele não teve conhecimento. A fala é basicamente sobre como a gente sempre vai ser um amontoado de coisas boas e ruins. As coisas boas não vão suavizar as ruins mas as ruins também não vão fazer com que as boas fiquem menos importantes. Esse momento sempre foi tão especificamente Van Gogh (e eu juro que não é minha intenção mencionar arte ou artistas em todas as newsletters, quando dou por mim já aconteceu) que nunca me toquei que é a gente também. Não é só sobre ele, suas dores, traumas e problemas. É também sobre a gente, tendo que lidar com nossa pilha de coisas boas e ruins e tendo que decidir o que fazer com elas.



Doctor Who também me fez parar pra refletir sobre isso quando me falou que todo mundo muda e que a gente consegue ser várias péssimas durante nossa vida e que tá tudo bem, a gente tem que continuar mudando mesmo, desde que não esqueçamos todas as pessoas que um dia já fomos. Boas ou ruins. Se esse não for o melhor modo de observar e aprender dentro do nosso próprio crescimento, eu não sei qual é.

(E aqui é só uma menção honrosa mesmo, COM SPOILERS, porque achei cabível e não podia ignorar, mas é só pra quem viu a nona temporada de Doctor Who - e juro que não era minha intenção falar tanto de Doctor Who nessa newsletter, mas confessando que essa cena em si já me fisgou pra fazer uma só sobre ela: a Missy e o Master se despedindo é a coisa mais poética que eu já vi. É a mesma pessoa, em pontos diferentes da própria vida, e ambos continuam sendo horríveis mas em circunstâncias distintas, com balanças emotivas distintas. "Eu adorei ser você", ela diz, mesmo que o "você" em questão tenha sido um genocida paranoico com princípios que já não fazem mais sentido para o que ela agora acredita. "Cada segundo." Porque mesmo que não combinem mais, ainda foi ela, sentimentos que ela um dia teve, e ela honra isso. Mesmo tentando ser uma boa, nova pessoa, ela assume quem um dia terrivelmente já foi. E isso fala muito da nova pessoa que ela tenta ser, matando, literalmente, a antiga.)

Foi irônico pensar em escrever isso e parar pra assistir The Good Place no mesmo final de semana. Sem fazer resenha da série ou entregar o plot, não tinha nada que eu pudesse assistir que fosse me obrigar a refletir mais sobre pessoas boas x pessoas ruins e em como a linha entre esses dois conceitos é bem tênue, mesmo que de início não pareça. E olha que a série é de comédia. Me fez notar que, quando é sobre a gente, nada é tão simples. Já dizia a Selena Gomez na música de abertura de Os Feiticeiros de Waverly Place que "nem tudo é o que parece ser" e a Rachel Bloom na abertura de outra série, sendo essa uma metáfora da minha vida, "the situation's a lot more nuanced than that".

The Good Place* me fez pensar sobre os requisitos pra ser uma boa pessoa e em como essa boa pessoa poderia se encaixar facilmente no perfil de pessoa ruim se você escolhesse analisar a situação por outro ângulo. E se isso não exemplifica tudo que eu falei até agora, vai pelo menos parecer que tô andando em círculos no mesmo lugar, porque é basicamente a mesma coisa.

Quanto a mim, a você, e a todo mundo que sentiu um #relatable quando mencionei "os que se sentem um lixo": A gente não se sente um lixo porque a gente é. Isso já não é parte da nossa natureza humana, ou caráter, e sim da parte psicológica mesmo. Mas aí é assunto pra outro dia.

Se não consegui aceitar ou compreender ainda nossa complexidade e as diversas formas, boas e ruins, de lidar com elas - e, sério, acredito que daí que vem as diferenças entre As Pessoas TM que a gente coloca na lista de PESSOAS MUITO TERRÍVEIS e PESSOAS MUITO BOAS -, pelo menos já consegui absorver que sou média. Sou uma pessoa nível médio. Um 7 no meio social. E que seja, tá tudo bem também. Eu aceito ser uma pessoa média.



(*The Good Place também me fez pensar muito sobre vida, morte, e o que vem depois, que é um assunto que geralmente costumo evitar. Mas, vendo a série, é retratado de forma tão leve que fiquei até surpresa de não ter tido um ataque de ansiedade em nenhum dos episódios. Well done.)

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To me, to you, and you, you, you and you

Essa já é a terceira* newsletter que eu tento escrever desde o meu último súbito momento de luz - porque, se tem algo que eu já percebi, é que eu só consegui cuspir 3000 palavras e tentei fazer um sentido delas quando tive um desses momentos.

Uma vez a Cecilia disse que gostava das minhas newsletters porque elas eram bem pessoais e eu sempre conseguia colocar arte nelas. A Yasmin (que lia minhas coisas silenciosamente, né Yasmin??) chegou ontem pra me dizer que claro que ela lia, ela amava arte. Depois de ficar extremamente grata pelo apoio de pessoas maravilhosas que tenho a sorte de ter na vida, fui pensar caladinha na minha: e quando eu não conseguir ter a mesma profundidade que criei a tendência de colocar no que escrevo? Quando eu não conseguir ser tão íntima em palavras quanto um texto sobre carreira ou amizades fadadas ao fracasso, ainda vou ter credibilidade? E mais, se não for nada vindo da minha dor, ou frustração, ainda vai ser considerado arte? 

Por um momento, pensei que tinha colocado uma expectativa em mim mesma que já tava alta demais, uma que agora teria de ser só de sentimentos e sentir e fazer algo que fosse bom o suficiente paras pessoas acharem exatamente o mesmo, ao ponto de falarem que tinha arte no que eu produzia (veja só!), ou no sentimento com que eu produzia. Foram momentos específicos que eu conseguia, por exemplo, escrever por horas sobre o que eu estava sentindo por não ter outro lugar pra colocar. Eu deveria sentir que meus momentos mais leves e aleatórios não merecem validação por eles não terem a mesma carga emotiva?

Meu problema sempre foi minha cobrança absurda comigo mesma. Não lembro muito de Cisne Negro - vi aquele filme quando todo mundo ainda falava nele, sem entender muito da profundidade, mas não questionando o fato de que todo mundo concordava que era bom. Lembro que a personagem queria ser perfeita. Nem boa, nem ótima. Perfeita. Não sei se no plot dela isso cabia só ao ballet, mas pra mim é na vida inteira. E é exaustivo. Não que eu seja impecável em todos os aspectos que me cercam porque pra mim é impossível mesmo (eu sou desleixada demais pra me importar), mas eu tenho 0 tolerância aos meus próprios erros. Prefiro não fazer mas nada da vida do que fazer algo errado e achar que o resto desse planeta e de todos os outros e dos outros que ainda virão vão me julgar, me detestar ou me diminuir por isso. E caso ninguém o faça, eu mesma tô aqui pra fazer por todos esses planetas 

lá em cima é que essa na verdade pode ser a quarta, já que isso era uma newsletter totalmente diferente e eu apaguei inteira porque era um texto só ok. Não era bom. E até eu, que acho que não faço nada ótimo, fico neurada por não conseguir simplesmente largar de mão e deixar as coisas fluírem. Não que eu queira atingir a perfeição da Natalie Portman. Mas, assim, se eu não errasse nunca mais na vida, seria 10/10. Ou pelo menos, que eu não ligasse tanto pra isso.

Calma, eu não apaguei tudo pra fazer um texto sobre meu 
self loathing e enviar no lugar. Acredite ou não.

 



Depois de uma introdução intensa demais só pra explicar que esse post não vai ter lógica nenhuma, porque eu sou that extra, a gente precisa logo se acertar no fato de que essa sou eu escrevendo com bloqueio. Até quem não escreve já ouviu falar do famoso bloqueio na escrita, e não que eu escreva, mas eu definitivamente escreveria mais se não fosse a porra do bloqueio. Minha proporção, na verdade, é de 84 bloqueios para 2 produções. Enfim: bloqueio, sem ideia, sem roteiro. A famigerada divagação, que prometi desde o primeiro dia, bem crua. 




Até porque, a descrição dessa newsletter é literalmente: Falo um bocado de coisa que ninguém quer saber e tenho divagações que ninguém entende. Tem muita referência aleatória também. E é tudo fora de ordem. 


Eu disse que tentei escrever duas newsletter antes dessa. Uma delas é um desses momentos de aleatoriedade, que meus amigos devem olhar pro horizonte e se perguntar onde que eles estavam com a cabeça quando começaram a andar comigo em primeiro lugar, e tinha muitos, mas muitos gifs do Darren Criss metidos no meio. A outra tá pronta, e foi minha primeira experiência produzindo algo que eu simplesmente não consegui publicar no automático depois. Me fez pensar no quão confortável eu realmente estou comigo mesma, ou acho que estou, e se preciso trabalhar nisso. A gente aprende muita coisa nessa de escrever, se frustrar, entrar em reflexão profunda e sair com uma newsletter sem pé nem cabeça, viu? Te contar. 

Nesse feriado que tive pra chamar de férias, que acabam em exatos 2 dias, consegui ter um pouco mais de perspectiva (acredite ou não, depois de tudo que já te fiz ler nesse mesmo post) sobre coisas que antes me fariam perder o juízo, o rumo, o chão, ou os três de uma vez. As coisas não só mudam como já mudaram, e a gente tem 0 controle sobre isso. Perde-se pessoas e dói, dói bastante, e a pior parte é que é muito fácil achar que já não se tem mais ninguém, mesmo quando pessoas incríveis ainda estão por perto. É uma experiência bem Monet: olhando de perto é uma bagunça, mas se afastando pra observar faz todo sentido.

Sinceramente? Tô muito feliz comigo mesma de ter conseguido me libertar de certas coisas. E mais feliz ainda por ter gente incrível que diz estar orgulhosa por isso. Não costumo sentir orgulho de mim mesma com muita frequência. É bem bom. Mas saber quem as mesmas pessoas que te deram essa perspectiva também torcem por ti e sentem o mesmo também é. 

Achei companheirismo, amizade, e luz (que eu imagino ser esse emoji ✨✨ em forma de sentimento) depois de pensar que não tinha nada além de vazio pra mim. Se isso não for arte se manifestando em ações pra vocês... 



 



Uma das coisas mais preciosas que eu aprendi com a Amanda Palmer - e olha que aprendi muitas coisas com Amanda e confio que ainda aprenderei - é que a gente absorveu e cultivou a ideia de que a única coisa que nos valida como artista é ter um diploma em Artes. Ou performar Artes em algum lugar de renome. Eu ter algo que te dê legitimidade de falar "eu fui ali, naquele lugar importante, fiz aquela coisa importante, portanto, obviamente, eu posso me chamar de artista". Porque, é claro, ninguém sai se denominando médico sem ter feito medicina. A premissa devia ser a mesma. 

Mas nem sempre é.

Arte é sobre criação e sobre sentir. A gente não precisa daquele diploma porque ser artista, segundo a Amanda, e a gente divide o mesmo pensamento, é colocar o que você sente por aí em forma de arte e fazer quem recebe sentir algo de volta. Provocar uma vivência profunda e inesperada no outro é ser um bom artista. Passei bastante tempo procurando algo que eu me achasse boa e foram pouquíssimas as coisas que encontrei. No entanto, todas foram dentro da arte. Se eu quiser dizer que eu sou artista, segundo a Amanda Palmer, eu posso! Não sei quanto à parte de ser boa, mas é bom saber que em algum lugar desse universo eu tenho a possibilidade de ser o que eu gostaria de ser.

Talvez um dia eu seja menos dura comigo mesma e aceite que tá tudo bem produzir coisas ótimas e, em outros momentos, coisas mais ou menos. Tem o Bruno Mars, que trabalhou em Uptown Funk por séculos porque sabia que a música tinha potencial mas tava indo pro lado errado até que terminou e virou o que virou, e tem eu, que sou um trabalho em progresso. Em progresso de aceitar que, talvez, no campo tão abrangente da arte que, inclusive, eu amo tantas coisas, talvez a escrita seja a parte que eu mais fico confortável e nem sou tão sensacional assim. Progresso de aceitar que escrita pode ser arte também, como forma de produção carregada de emoção, por que não?

E aí que vem minha sorte em ter pessoas na minha vida que me dão a luz do emoji. Que chegam pra me dizer que tem coisas interessantes acontecendo ao meu redor, e que eu mesma posso fazer essas coisas. Que eu posso sim produzir algo e que essa produção pode ter uma qualidade. E caso não tenha, pode parecer o fim do mundo pra mim e minha neurose de querer fazer tudo nos conformes, mas pra eles tá tudo bem. Eles não diminuem minha importância simplesmente porque eu tive um momento, bom, humano. E se sentem incomodados quando eu o faço. Eles enxergam meu potencial e consideram até como "arte" antes mesmo que eu dê uma segunda olhada e pense "é, tá mais ou menos". 




Eles - vocês, porque vocês estão sempre aqui - às vezes me oferecem mais do que eu mereço. Se for pra criar uma metáfora bem feia, diria que vocês são um peso de balança que cria o equilíbrio com o meu lado que não sabe lidar com o papel-do-erro, e que acha que tá sendo criticada sempre. Recebo esse apoio, compreensão, suporte e paciência (sim, porque eu sei que não é fácil) com meu coração quentinho e com muito, muito amor. Até porque, como já disse um personagem por aí que se parece bastante comigo: 


"Love is just like art: a force that comes into our lives without any rules, expectations or limitations. Love like art, must always be free."
 

Sendo assim, obrigada por colocar todo o amor do mundo dentro de mim. Espero contribuir com pelo menos um pouquinho de volta pra vocês.

 


 




Coisas aleatórias que amei demais desde nosso último contato mas são tão soltas que não dá pra fazer textão sobre (voltamosssssS)

  • Eu obviamente não amei, só passei 21 minutos puta de raiva, mas esse vídeo aqui mostrando a misoginia escancarada de The Big Bang Theory disfarçada de comportamento nerd justificável
  • Esse post lançando uma problemática leve sobre termos como "love wins" e "love is love" 
  • Esse texto é de 2013 e eu só esbarrei com ele meses atrás, mas é o relato de uma mãe que chama When My Son Met His 'Boyfriend', Darren Criss (sim, é uma fofura!). O que me levou a ler também o 'When Your 7-Year-Old-Son Announces, I'm Gay', que cai como uma luva agora que tá rodando um tweet por aí dizendo que crianças gays são existem, porque aparentemente crianças não tem como saber quem elas são. :)
  • A Amanda Palmer cantando Bad Romance sem fazer a mínima ideia do que ela tá fazendo (acho que essa performance é uma crítica social foda ao mainstream porque é a Amanda, mas eu achei engraçado mesmo)
  • A Cecilia e a Yasmin com newsletter!!!! Nada de aleatório nisso!!! O link tá no primeiro parágrafo desse post!!! 
  • Terminei Grace & Frankie e 1) descobri que sou o Sol e 2) meu spirit animal é a Brianna
  • A Pink e o discurso dela no VMA :') 
  • THE BOLD TYPE. VEJAM. Eu tô um pouco louca por essa série. Se não deu pra notar por todos os gifs que usei nesse post, que são só dela. Inclusive:
  • Usar gifs de uma coisa só em posts.




Eu nem acredito que finalmente parece que tenho uma newsletter completa. Juro que não planejo mencionar arte em todas, simplesmente acontece. Um dia uma vai vir sem a menção da palavra QUE JÁ NÃO DEVE SER MENCIONADA e vou me sentir culpada e vocês vão achar estranho. Até lá, a gente segue como se esse fosse o foco da criação delas. Não aquele quote ali em cima do "divagações e referências".

Eu espero que, caso não absorvendo nada do que eu disse, vocês apreciem pelo menos a imagem com que eu escolho encerrar, porque eu sempre penso muito sobre ela.

Meninas que sempre querem sair deixando uma gracinha no ar. 




até a próxima, 
deni out. 🌻

Van Gogh, Andrade, e as amizades que (não) deram certo

Não lembro de muita coisa do meu último ano na escola. Durante uma conversa com meu primo - que no momento é aluno desse mesmo último ano, da mesma escola -, estávamos comentando sobre professor x, y e z, e eu não lembrava sequer quem era o professor z, até que meu primo falou "aquele de História II". Me toquei na hora que não lembrava do professor de História II. Porque eu tinha faltado todas as aulas de História II. 

Enfim. 

Lembro pouco. Foi um ano difícil, parte que felizmente também não lembro muito, já que, por incrível que pareça, tento bloquear momentos e sentimentos ruins demais que já não fazem parte do meu presente. No entanto, não dá pra esquecer as aulas de Arte. Na sala 1, uma das maiores da minha escola, estudei sobre Van Gogh, suas técnicas de pintura, seu relacionamento com o Gauguin e o famigerado corte da orelha que pra muitos foi consequência disso. Na sala 12, pequena demais em comparação à anterior, a qual fomos transferidos quando metade da turma saiu no meio do ano pra entrar na faculdade particular, aprendi sobre a Semana de 22 e os homens responsáveis pelo planejamento da mesma, Oswald e Mário de Andrade, que não, não eram irmãos, como minha professora fez questão de reiterar. 

Vou confessar que meu interesse pelas aulas de Artes naquela época não era estudar o significado daquela cor naquele quadro, ou quantas fases o Picasso teve dentro da produção dele, ou os motivos de Bauhaus ter sido uma escola top demais. Hoje em dia respeito completamente os detalhes de cada vanguarda e me chamar pra debater as diferenças do Impressionismo pro Pós-Impressionismo ou a fase azul do Picasso é me fazer extremamente feliz. Mas naquela época, com a perda de quase todos os meus amigos e a falta de histórias próprias pra contar, eu tava interessada mesmo era na fofoca. Na versão Gossip Girl da arte, nas picuinhas e nos rumores. Fui fanática (e ainda sou, sinceramente - a gente muda bastante mas existem coisas que são a gente) em pesquisar fatos que ninguém ligava sobre a vida desses artistas e tentar encaixar com a obra depois. Hoje, ao esbarrar com um quote do Van Gogh dizendo "o que minha arte é, eu sou também", vejo que foi uma maneira até interessante de observar.

Sou muito adepta da ideia de que você produz o que você vive. Eu gostava de observar e entender o que se passava na vida dos artistas pra depois tentar entender o que eles mostravam pela arte. Sei que deve existir não só uma mas várias correntes filosóficas pra derrubar meu pensamento, aquelas que diziam que não precisava vivenciar a coisa pra ter o conhecimento sobre ela, e que eu nunca vou lembrar o nome. De qualquer forma, aquela que me contava uma história real e me deixava mais próxima da pessoa por conhecer um pouco da trajetória dela pela arte sempre me agradou mais. 

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